quarta-feira, janeiro 24, 2007

Natal - Saindo às compras I
Encontrando os Johnson


Mina jogou o cachecol sobre o pescoço, antes de apertar o casaco contra si. Adorava o frio, mas só quando estava bem agasalhada. Ao lado dela, Holly esperava, segurando suas luvas e a bolsa com o dinheiro.

- E cuidado com quem vocês cruzam pelo caminho.

Mina riu baixinho.

- Holly, é a terceira vez que você repete isso.

- Não se preocupe, tia. Eu vou estar com ela. Mesmo que Mimuca seja uma quatro-olhos, a minha visão ainda é perfeita.

Mina e Holly viraram-se para Lusmore com os mesmos olhares reprovadores.

- De qualquer maneira, eu não pretendo fazer muitas compras no Beco Diagonal. - Mina voltou a dar atenção apenas à governanta, recebendo as luvas das mãos dela - Estava pensando em variar esse ano e ir comprar os presentes de natal em algum centro de compras trouxa.

- Acho que seria mais seguro. - Holly assentiu - Foi uma sorte então que eu tenha decidido trocar seu dinheiro no Gringotes, antes de você chegar.

- Eu não acho que tenha sido sorte. A senhora já estava pensando nisso antes que ela chegasse, sou capaz de apostar. - Lusmore intrometeu-se mais uma vez - Mina, você acha que vamos demorar muito? Alguma chance de virmos almoçar em casa?

A quintanista meneou a cabeça.

- Eu fiz uma lista para não ficar muito perdida. Mas ainda assim, ela ficou meio extensa. - ela abriu um sorriso meio perverso - E adivinha quem vai carregar as sacolas, Lusmore?

- Depois ela ainda se diz feminista... - ele observou, enquanto Holly abria a porta para os dois.

- Você provocou, agora arque com as conseqüências. - Holly respondeu simplesmente.

Minutos depois eles estavam em um dos famosos ônibus de dois andares, a caminho do centro londrino. Mina checava a lista que trouxera consigo, enquanto Lusmore observava em silêncio a paisagem passar por eles. Havia qualquer coisa que o estava incomodando na menina, desde o momento em que pusera os olhos nela, na estação. Alguma coisa que ele sentia estar fora do lugar.

Entretanto, ele ainda não tivera chance de descobrir o que era aquilo. Sabia que tinha a ver com as emoções de Mina. De certa forma, ela parecia mais sensível e ele podia sentir as variações da aura dela. Não podia ler o que se passava com a menina muito claramente, mesmo porque, aquela não era sua especilidade. De qualquer maneira...

- Chegamos. - a voz dela cortou seus pensamentos.

Lusmore levantou-se, ao mesmo tempo em que o ônibus parava. Os dois desceram rapidamente e Mina respirou fundo o ar gelado da manhã.

- Por onde começamos? - ele perguntou, olhando para ela.

- Tem um shopping mais para a frente. Vamos deixar o Beco Diagonal por último, porque daí eu mando os presentes pelo correio-coruja de lá.

Ele assentiu.

- E o que você vai comprar para mim?

Antes que ela pudesse responder, alguém gritou seu nome. Mina girou nos calcanhares, não demorando a reconhecer a voz de quem a chamava.

- Meri!

A ruivinha acenou sorridente para a amiga, praticamente arrastando o pai pelas mãos até se aproximar da garota de óculos e do rapaz que estava próximo a ela.

- Nunca imaginei que ia te encontrar aqui, no meio de Londres.- abraçando a menina com força- Achei que já tinha ido para as Hébridas.

- Eu tive alguns problemas. - Mina respondeu, olhando com o canto dos olhos para Lusmore, enquanto retornava o abraço - Estou fazendo compras de natal. Eu só vou para as Hébridas na véspera do natal. Tenho que providenciar os presentes do meu avô, dos meus pais, do meu padrinho, do meu tio...

- Meu... - Lusmore acrescentou, quase assobiando.

Mina percebeu o olhar curioso da amiga e suspirou.

- Bem, como são muitas pessoas, tive que trazer um carregador junto comigo. Meridiana Johnson, Lusmore Mahala.

Meridiana estendeu a mão para o rapaz, tentando conter um riso que queria sair lá do fundo da garganta, mas não queria encabular Mina. Aquele então era o terrível Lusmore Mahala de quem a quintanista falara, ou melhor, resmungara e bufara, algumas vezes. Não lhe pareceu que ele fosse o monstro terrível que Mina pintara. Muito pelo contrário, a impressão que teve é que ele era alguém bastante simpático.

- Muito prazer. - disse ela, sorrindo.

- O prazer é todo meu. - ele respondeu, com um belo sorriso - Independente do que Mimuca tenha dito, eu juro que não como criancinhas no almoço.

Mina sentiu como se todo o seu sangue tivesse de repente se concentrado em suas orelhas. Nada discretamente, ela aplicou um beliscão no cotovelo do rapaz.

- Não me chame de Mimuca. - ela advertiu, num tom perigosamente baixo.

Meridiana não conseguiu se segurar antes o comentário do rapaz, soltando uma pequena gargalhada.

- A verdade é que eu não queria comentar, mas, realmente sua fama o precede...Ela não disse nada sobre comer criancinhas...Mas sobre jogá-las em covis de dragões, isso certamente eu escutei...

Antes que Mina pudesse reclamar ou Lusmore pudesse dizer alguma coisa, um "hum-hum" interrompeu a conversa dos adolescentes. Meridiana virou-se encabulada para o pai. Estava tão feliz em reencontrar a amiga, que esquecera-se completamente dos bons modos.

- Bem... - começou a ruivinha - Antes que eu ganhe um merecido puxão de orelhas pela falta de educação, deixe-me apresentá-lo para vocês. Este aqui é o meu pai, Nicholas Jonhson. Pai, esta aqui é a Mina, a "rata de livros" que eu disse que TINHA que te apresentar, nas últimas cartas. E, bem, como ela já disse, Lusmore Mahala, primo dela.

Nick estendeu a mão para comprimentando Lusmore com um aperto firme, e, depois, dirigindo-se para Mina, disse:

- É realmente um prazer te conhecer. Pimentinha falou muito bem, de você. E sempre digo a maior felicidade de um "rato de livros" é encontrar um semelhante.

- Concordo plenamente. - Mina assentiu, abrindo uma grande sorriso, os olhos brilhantes - Meri me emprestou alguns dos seus trabalhos e, devo confessar que terminei virando uma grande fã do senhor. - ela terminou, respeitosamente, quase com adoração.

Nick corou discretamente, mesmo depois de todos os anos e livros publicados, ainda se sentia surpreso e comovido com demonstrações tão empolgadas de apreço ao seu trabalho.

- Muito obrigado, fico feliz em ouvir isso. Acho que nada melhor para um escritor que um elogio sincero. Bem, minha filha me falou que você também é escritora...

Mais uma vez, Mina se viu corando loucamente.

- Receio que "escritora" seja um exagero. Eu gosto de escrever, simplesmente isso. - ela respondeu com um sorriso - Quando eu escrevo, é como se descarregasse todos os problemas do mundo das minhas costas. É mais uma espécie de terapia...

Meridiana sorriu ao ver os dois conversando. Realmente ficava feliz quando as pessoas que eram importantes na vida dela se davam bem.

- Sabe, acho que vocês dois teriam muitas figurinhas para trocarem. Se quiserem, a gente troca os pares das compras. Eu vou com o Lusmore pelas lojas, enquanto a Mina vai com meu pai - brincou Meri.

- Eu não teria coragem de fazer seu pai de burro de carga, Meri. - Mina observou, tirando o relógio da bolsa - Mas e se tomássemos um chocolate quente aqui perto?

- Quer dizer que eu só estou aqui para carregar suas coisas, Mimi? - Lusmore retrucou, sorrindo, antes de se voltar para Meri - Por essa atitude, já deveria estar claro quem costuma jogar as pessoas no covil dos dragões.

Meridiana segurou-se para não rir ao notar o olhar fulminante que a amiga lançava ao rapaz, que parecia se divertir ainda mais com a atitude da menina.

- Um chocolate quente seria ótimo - Nicholas respondeu - Tem um café aqui perto que acho que vocês vão gostar.

Nicholas guiou os meninos até um café a poucos metros dali, virando a esquina. Ao abrir a portinhola, o sininho de latão lembrou-lhe que estivera ali fazia poucos dias para reencontrar uma velha amiga. Era estranho, nunca antes levara a filha àquele lugar, apesar de ser um dos recantos favoritos da falecida esposa.

- Olha, tem uma mesa vaga com quatro cadeiras ali no canto - disse a ruivinha apontando para um lugar próximo de uma grande jukebox.

Os quatro sentaram na mesa, fazendo os pedidos. Mina pediu um chocolate, enquanto Meri pediu um cappuccino, Nick se contentou com seu tradicional Earl Grey, e Lusmore, café preto. Enquanto os jovens conversavam, Nick observava a alegria de sua filha e dos amigos. Como queria que a esposa estivesse aqui com ele naquele momento. Foi retirado de seus devaneios ao perceber que a amiga de sua menina, lhe dirigia a palavra:

- Senhor Jonhson, er...se não for parecer intrometida demais, mas que tipo de livros o senhor gosta? Em quais autores o senhor costuma se espelhar?

Nick sorriu, já voltando atenção à amiga da filha. Às vezes achava estranho ser chamado de senhor, ele que nem tinha quarenta anos de idade, mas casara-se cedo demais e já tinha uma filha adolescente. Enquanto enumerava autores que iam desde Tolkien, passando por Lewis e T.H.White, até chegar a Shakespeare, observava os olhos brilhantes da menina concordando silenciosamente com a cabeça, e um sorriso enorme no rosto. Realmente, a jovem MacFusty era uma aficcionada por literatura. Se o amor pelos livros que estava demonstrando só de ouvir as menções daqueles autores fosse proporcional ao talento dela na escrita, ela deveria ter um futuro brilhante pela frente caso desejasse se profissionalizar. Precisava pedir a Meridiana que lhe passasse algum dia os textos de Mina

Enquanto Mina e Nick se perdiam em suas conversas literárias, Lusmore voltou-se para Meri, baixando a voz (muito embora duvidasse que Mina estivesse prestando a mínima atenção neles agora).

- Eu posso te chamar de Meridiana?

A ruiva sorriu, não sabia explicar a razão, mas simpatizara com o primo de Mina logo de cara.

- Tudo bem, claro que pode, se eu puder te chamar de Lusmore...

Ele sorriu, assentindo.

- Bem, Meridiana... Você sabe se a Mina tem aprontado alguma coisa na escola?

Os olhos da ruiva se estreitaram ligeiramente. O quê, exatamente, o rapaz estava desejando saber? Será que ele queria apenas notícias do dia-a-dia de Mina, ou desconfiava que ela estivesse envolvida em algo mais sério?

- As coisas de sempre, você sabe...Visitas clandestinas à cozinha...Coisas do gênero...

- Nada mais grave? - Lusmore voltou a insistir.

- Não que eu saiba - a ruiva reafirmou.

Talvez escrever para O Olho do Grifo não fosse uma coisa lá muito segura, considerando a guerra que se desenrolava no mundo bruxo, mas até onde ela sabia, não havia nada realmente ameaçador acontecendo dentro de Hogwarts a ponto de eles ficarem temerosos. Herman teria comentado alguma coisa com ela, não teria? Ou será que ele comentou, e ela, imersa na confusão de sentimentos que estava, não tinha atinado para a gravidade da situação? A pergunta do rapaz a deixara com uma pulga atrás da orelha.

Lusmore, por sua vez, observava a ruiva com atenção. Sentia que havia alguma coisa errada com Mina. E ele descobriria o que era. Pensara em perguntar à Meridiana porque, pela forma com que a tratara, Mina certamente a prezava muito. Mas, aparentemente, o que quer que tivesse acontecido, a jovem MacFusty não se confessara com Meridiana.

Ele se recostou em sua cadeira, sorrindo de leve.

- Pelas histórias que a Mina conta, pode até parecer que não, mas eu realmente me preocupo com ela.

- Eu também, Lusmore. Eu gosto da Mina como se ela fosse minha própria irmã. E se isso te deixa mais tranqüilo, eu te prometo que até onde for preciso, eu vou protegê-la de qualquer coisa que puder ameaçá-la.

Lusmore abriu um amplo sorriso, ele sentiu sinceridade nas palavras de Meridiana. A ruiva realmente se importava com Mina. Nesse momento, os pedidos dos quatro chegaram e Nick e Mina se viram tirados de sua conversa sobre as influências mitológicas cristãs nas obras de Tolkien e Lewis e nas semelhanças entre as principais obras dos dois autores - O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia.

- Eu não acho que tenha sido plágio, sabe? - ela continuou, enquanto agradecia o chocolate que a garçonete acabara de colocar à sua frente - A sinfonia composta por Ilúvatar em Silmarillion lembra muito a canção de Aslam em Sobrinho do Mago, a idéia é a mesma... Mas eu consigo imaginar os dois andando por Oxford e conversando sobre suas visões de mundo.

Nick assentiu.

- De qualquer maneira, eu ainda prefiro Tolkien. Lewis às vezes deixa a desejar em alguns pontos e...

- Sim, mas porque Lewis escreve para crianças. Essa cena da criação do mundo, embora seja extremamente parecida em ambos, é muito mais lírica em Lewis. Se torna algo mais próximo, mais melancólico... - Mina retrucou.

- A conversa desse lado da mesa está atingindo níveis altos demais para que possamos acompanhá-la... - Lusmore observou - Mimi, acho melhor você tomar seu chocolate antes que esfrie. E ainda temos muitas compras a fazer...

Nick e Mina sorriram.

- Receio que também não tenhamos muito tempo. - Nick respondeu - De qualquer maneira, eu ficaria muito feliz se você viesse nos visitar qualquer dia para continuarmos essa conversa, Mina.

- Será um prazer. - a menina respondeu - E eu pretendo levar então os livros que ganhei da Meri para o senhor autografar.

Meri riu baixinho, enquanto o pai corava de leve, embora assentindo.

- Com a condição de que você também levará seus textos para que eu possa ler.

Meia hora depois, os quatro estavam de volta à rua, despedindo-se. Nick reafirmou o convite que fizera, enquanto Meri abraçava calorosamente a amiga. Os Jonhson então voltaram a caminhar para suas compras e Mina observou-os desaparecer, antes de voltar-se para Lusmore.

- Vamos indo?

Ele assentiu.

continua...
participação na confecção do post: Meri

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