terça-feira, fevereiro 27, 2007

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*Parte 1 - Lusmore*
*Parte 2 - A Casa de Londres*
*Parte 3- Godfrey*
*Parte 4- Saindo às Compras I -Encontrando os Johnson*
*Parte 5- Saindo às Compras II -Lista de Compras*
*Parte 6 - Os Primos do Japão*
*Parte 7 - Conversas*
*Parte 8 - Finvara*
*Parte 9- Mãe e Filha*
*Parte 10 - Observações*
*Parte 11 - Chama de Prata*
*Parte 12 - De Cama*
*Parte 13- Pósfácio Japão: Hilde
*Final - Voltando para Hogwarts*
*Extras - Dolls*

Natal - Os Primos do Japão


Mina se espreguiçou, olhando para o relógio em sua cabeceira. Oito horas.

O dia anterior fora extremamente cansativo, mas divertido mesmo assim. Por mais que vivesse reclamando de Lusmore, não podia negar que era divertido estar com ele. Fora que ele carregara todas as suas sacolas, mesmo quando ela se oferecera para ajudar. Ela virou-se na cama, ficando de bruços, enquanto olhava pensativamente o céu claro pela janela.

Seus pais tinham viajado para as Hébridas na madrugada do dia anterior, antes dela sair para as compras. Godfrey também já fora. Agora só restavam ela, Holly e Lusmore. Mas eles partiriam aquele dia, logo após o almoço, depois que recebessem seus padrinhos... e os filhos dele.

Edward e Ceres Rostand pertenciam a um dos muitos troncos que formavam o clã MacFusty. Edward estudara e se formara junto do pai dela, Jonathan, e os dois tinham sido bons amigos. Por isso, quando Mina nasceu, Jonathan convidara os dois para serem seus padrinhos.

Dez anos atrás, Edward fora convidado para participar de um grande projeto na Gakko Mahou Amaterasu, a escola de magia japonesa. Pouco tempo depois, foi contratado como professor interino e mudara-se com toda a família para lá. Apesar de não ser tão próximo quanto Godfrey, Mina gostava do padrinho. Uma vez por ano, pelo natal, ele sempre aparecia nas Hébridas para visitar a família e nunca se esquecia de levar seu presente.

Os filhos e a esposa dele, entretanto, sempre ficavam por lá. Tia Ceres também aparecia de vez em quando, mas como os meninos sempre preferiam ficar para os festivais japoneses, ela costumava permanecer com eles.

Essa seria a primeira vez que ela teria contato com os primos.

Lusmore lhe falara por alto deles. Rylan era um ano mais novo que ele. Pelo pouco que pudera perceber, os dois eram bons amigos. Já a menina, Hilde, tinha a sua idade, era meio "maluca" e gostava de tirar fotos.

- Grande informante eu tenho... - ela resmungou para si ao pensar em todas as informações que tinha sobre as visitas.

Quando afinal tomou coragem de se levantar, já passava das nove. Tomou um banho quente, escolhendo a primeira roupa que conseguiu pescar do malão, antes de fechá-lo com certa dificuldade. Só então desceu para tomar café.

- Bom dia, Mimuca. Madrugou hoje, não? - Lusmore observou com óbvio sarcasmo, sentado junto à bancada da cozinha, ajudando a tia a descascar batatas.

- Não seja desagradável tão cedo, Lusmore. - Holly respondeu pela menina, antes de sorrir para ela - Fiz wafles para você, Mina.

- Você sabe que eu te adoro, não é, Holly? - ela perguntou, sorrindo, enquanto abraçava sua governanta pelos ombros, mostrava a língua para Lusmore e passava o dedo na calda de chocolate dos wafles, tudo ao mesmo tempo.

O resto da manhã foi passado em preparativos para o almoço e a viagem. Era por volta de onze e meia quando a campainha tocou, estridente. Descalça e ainda segurando uma bandeja de medalhões de filé que estava ajudando Holly a preparar, Mina saiu correndo na frente de todos, abrindo a porta, esbaforida.

A primeira pessoa que entrou em seu campo de visão foi uma garota ligeiramente mais alta que ela, com calças coladas negras sob uma saia laranja, que combinava com a blusa e a gravata que ela usava solta sob o conjunto. Ela não parecia se incomodar com o frio, pois segurava um pesado casaco no braço. Além disso, usava um chapéu de feltro muito parecido com aqueles que seu pai colecionava, os longos cabelos acastanhados caindo até a cintura numa verdadeira cascata, enquanto os olhos escuros a encaravam com curiosidade.

Logo atrás dela, estava um rapaz que, se não tivesse os cabelos curtos, poderia ser facilmente confundido com a irmã. Afinal, pela semelhança entre os dois, ela só podia acreditar que eram irmãos. Embora o rapaz tivesse uma maneira mais tradicional de se vestir...

- Mina?

Ela ergueu os olhos, encontrando afinal um rosto conhecido. Edward sorriu para ela, empurrando os filhos de leve, enquanto voltava-se para Ceres, que acabara de chegar às suas costas.

- Vamos entrando, meninos, vamos entrando, o tempo não está muito agradável para ficarmos aqui fora.

Como se tivesse acordado de um longo estupor, a menina diante de Mina ergueu a mão, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

- Muito prazer. Eu sou a Hilde. Você deve ser a Mina, não é?

Mina assentiu, respondendo com um sorriso, enquanto tentava segurar a bandeja com uma mão só para apertar a mão da prima com a outra. Antes, entretanto, que o pudesse fazer, Hilde simplesmente abriu os braços, jogando-os ao redor do pescoço da garota.

- Opa! - Rylan exclamou, enquanto amparava a bandeja que, por pouco, Mina não derrubara - Hilde-chan¹, você deveria ser um pouco mais cuidadosa, não? Para quem estava reclamando que está morrendo de fome... Como faria agora sem o almoço?

- Por que eu deveria me preocupar se você estava logo atrás, Ryl-kun²? - ela respondeu, sem se soltar de Mina.

Antes que o rapaz pudesse responder, Holly e Lusmore irromperam na sala.

- Rylan! - Lusmore exclamou.

- Fala, Lusmore! - Ryl avançou na direção do primo, ao que eles bateram as palmas no ar, rindo.

Hilde afinal soltou-se de Mina, dando espaço para que os pais também cumprimentassem sua anfitriã.

- Você cresceu desde o último natal, Mina. - Edward observou, sorrindo.

- Obrigada, padrinho. - ela respondeu - Bem, é melhor eu ir colocar essa bandeja na cozinha antes que ocorram mais acidentes...

- Eu vou com você! - Hilde se apresentou, alegre.

Mina não pode se impedir de sorrir diante do jeito de Hilde. As duas seguiram para a cozinha, enquanto Holly recebia Edward e Ceres e Lusmore e Rylan começavam a pôr em dia as conversas que tinham.

- Apesar de termos a mesma idade e termos morado no mesmo lugar por muito tempo, eu nunca tinha conhecido você. - Hilde observou depois que Mina depositou a bandeja sobre a bancada.

- Eu era meio reclusa quando era criança. - Mina respondeu - Sinto muito por não ter dado atenção ao fato de ter vocês como primos antes...

Um leve rubor tomou conta do rosto de Hilde, enquanto ela praticamente pulava (novamente) em cima de Mina.

- Kawaii³!!! Você é tão fofa!!! Já gostei de você, vai ser minha prima favorita de agora em diante!

Dessa vez, a jovem MacFusty não conseguiu encontrar palavras para responder. Por alguns instante, pensou em dizer que ela era a única prima de Hilde, então... Mas depois lembrou-se, com um sorriso, de Suzannah e pensou o que a sonserina faria se estivesse sendo "esmagada" daquele jeito por alguém da família.

- Bem, você deveria esperar para conhecer o resto da família antes. - Mina riu - De qualquer maneira, pelo que seu irmão disse, você está morrendo de fome, não?

Hilde assentiu.

- Com toda a certeza.

- Então, que tal me ajudar a colocar a mesa para que possamos almoçar logo e irmos para as Hébridas de uma vez? Faz muito tempo que esteve lá?

- Desde que eu me mudei para o Japão. - Hilde respondeu, dando a volta na bancada e olhando as terrinas cheias de comida que exalavam um cheiro delicioso - Papai esse ano decidiu que viríamos todos para o natal, que os festivais de lá já o estavam cansando e ele precisava de um pouco de "ar inglês".

Mina sorriu.

- Eu imagino que sim... Mas eu estou curiosa sobre como é sua vida lá no Japão... Você tem uma varinha? Eu já li uma vez que a magia oriental é diferente da nossa...

- Muito diferente. - Hilde confirmou - Mas depois eu te explico isso. Vamos chamar logo o povo para almoçar, antes que eu tenha um desmaio aqui...

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-chan - sufixo utilizado em japonês no feminino, para indicar intimidade
-kun - equivalente masculino de "-chan"
Kawaii - equivalente a "fofo" ou "bonitinho

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Natal - Saindo às compras II
Lista de Compras


Mina e Lusmore caminharam durante alguns minutos, antes dele voltar a puxar assunto.

- Você estava falando dos presentes que tem que providenciar, eu acabo de me lembrar de uma coisa... Você colocou seu padrinho na lista?

- Claro que coloquei. - ela respondeu, parando diante da vitrine de uma loja de roupas - Acha que minha mãe ficaria bem naquele vestido?

Lusmore arqueou a sobrancelha.

- Não é grande demais?

- Na verdade, acho que ficaria pequeno na barriga... - ela suspirou, voltando-se para ele - Por que essa preocupação com tio Edward?

- Você sabe que esse ano ele vai vir para as Hébridas com toda a família, não é?

Os olhos de Mina se arregalaram.

- Mas por quê? Tia Ceres e os filhos dele sempre ficam no Japão... Sempre tem os festivais lá e não sei mais o quê...

- A mãe da Tia Ceres está doente. - ele respondeu - Por isso, Rylan e Hilde também vão vir.

- E agora? - a menina perguntou, quase desesperada - Eu não sabia que eles iam vir. Não coloquei eles na minha lista.

Lusmore riu.

- Coloca agora, oras.

- Mas eu não conheço eles! Como vou escolher um presente sem conhecer a pessoa? - Mina parou de caminhar, ficando de frente para ele - Eles são seus primos também, não é, Lusmore? O pai da tia Ceres era um Mahala. Você os conhece, não é?

O rapaz assentiu.

- Eu costumava encontrar muito o Ryl quando éramos crianças. Você só vivia fechada no solar, não à toa não os conheceu. Mas acho que você ia gostar da Hilde, Mimi. Ela tem tantos parafusos a menos quanto você.

Mina revirou os olhos, mas controlou a vontade de responder. Precisava de informações naquele instante.

- Fora os parafusos a menos, do que ela gosta? Ou melhor, do que eles gostam?

Lusmore coçou o queixo, pensativo.

- Bem... Depois que se mudou para o Japão, Rylan virou um mestre espadachim. Ele adora espadas. A Hilde é fotógrafa no jornal da escola em que eles estudam. E, por tudo o que eu já ouvi, uma fotógrafa muito boa.

- Hum... - Mina sacou a lista do bolso e, com um lápis, riscou algumas coisas no papel, antes de voltar a caminhar - Ok. A primeira parada então vai ser... Na livraria!

- Eu sabia que em alguma hora do dia iríamos acabar lá... - Lusmore suspirou, seguindo-a.

A menina entrou na frente na grande livraria do shopping, deixando os olhos passearem pelos milhares de livros expostos nas vitrines. Sem cerimônia, ela começou a passar pelas estantes, tirando os volumes do lugar e folheando-os, ligeiramente alvoroçada. Quando Lusmore afinal conseguiu alcançá-la, ela já tinha pelo menos três encardenações debaixo do braço.

- Eu pesquisei em um catálogo trouxa de livros. - ela observou, entregando os livros nas mãos dele - Já tenho uma boa idéia do que vou comprar aqui.

- Para quem é esse "Manual da redação - dirigindo um jornal"? - ele perguntou, lendo os títulos - E para que você precisa de dois "Dragões: lendas e mitos"?

- São para um casal de irmãos que eu conheço. O Herman quer ser jornalista. E a Heather apaixonou-se por dragões. Eu daria uma versão em pelúcia para ela, se Herman já não o tivesse feito. O outro volume é para a irmã de outra amiga minha, a Fe, que é a coisa mais fofa desse mundo...

O rapaz suspirou, meneando a cabeça, enquanto Mina parecia saltitar entre as estantes, enchendo as mãos dele de coisas.

- Um lp dos Beatles? - Lusmore voltou a arquear a sobrancelha, enquanto recebia o presente das mãos dela - Quem ainda escuta lp hoje em dia?

- Tio Edward. - ela respondeu - Ele adora essas bandas trouxas e prefere os velhos discos de vinil. Diz que são mais sonoros.

- E esse álbum de fotos?

- Foi a primeira idéia que me veio à cabeça para a filha dele. - ela respondeu.

- Isso me lembra que esqueci de dizer mais uma coisa. - Lusmore observou - Nós vamos para as Hébridas amanhã. Tio Edward vai chegar de manhã, passar pelo Ministério para receber a chave de portal autorizada que seu avô pediu e depois nos pegará em casa para irmos todos juntos.

- Então amanhã eu vou conhecer esses misteriosos primos do Japão? - ela perguntou, pensativa, antes de passar mais alguns pacotes para ele - Leve isso no caixa. Eu ainda vou olhar mais algumas coisas aqui e já sigo pra lá.

O rapaz suspirou, obedecendo. Mina sorriu ao vê-lo se afastar e aproximou-se de uma estante de cds. Não demorou muito procurando o que queria. E, quando afinal chegou junto de Lusmore, que já estava passando suas compras pelo caixa, ela já tinha um presente guardado e enrolado no fundo da bolsa.

- Já é quase hora do almoço. - ele observou, quando deixaram a livraria - Que tal irmos comer alguma coisa, de preferência, alguma coisa bem quente?

Ela assentiu.

- A praça de alimentação fica para a esquerda. - ela respondeu, olhando para a placa sobre a cabeça deles - Podemos procurar alguma coisa por lá.

No caminho para a praça, eles acabaram parando em mais duas lojas. Na primeira, Mina comprou uma enorme caixa de chocolates finos, "para Raven", ela acrescentara, quando ele esticara o olho em direção à sacola. Na outra, uma loja de pequenezas, ela acabou comprando (depois de muito revirar os estoques), três caixinhas de música - uma para Meri, que ele conhecera há pouco, outra para Suzannah, que, de acordo com ela, também era prima deles e a terceira para Adhara, que ele não fazia a menor idéia de quem poderia ser.

Quando finalmente se sentaram para comer, Lusmore achou que estava realmente merecendo o título de "burro de carga". Estava com cinco sacolas, enquanto Mina só carregava uma - a de chocolates. E isso porque não confiara o suficiente nele para deixá-lo carregar aquele pacote em específico!

Uma hora e meia e dois pratos de macarronada ao molho branco depois, eles voltaram à maratona de compras. Depois de entrar em muitas lojas de roupa, Mina acabou escolhendo um vestido de festa bem solto para a mãe. Num edifício ligeiramente esquisito que alguns passantes tinham indicado para Mina - ele não sabia o que ela perguntara e também não se dera ao trabalho de inquirir a menina - acabaram por encontrar uma bela katana, que serviria maravilhosamente bem para Rylan.

No mesmo lugar, Mina comprou, depois de muito ir e voltar, uma miniatura em mármore de uma das belas ruínas gregas - o Partenon. Lusmore quase podia sentir inveja de quem ganharia aquele presente, mas Mina não chegou a comentar com ele de quem seria.

Voltaram para o shopping. Uma bengala de cabo de marfim, um charuto novo e uma coleção de miniaturas de perfume depois, entraram numa joalheria. Lá, Mina escolheu um par de brincos para a Tia Ceres e dois pingentes - uma borboleta para Lorelai, e uma gota azul para Sam.

Finalmente, quando ele já não tinha mais mãos para carregar sacolas, os dois seguiram para o Beco Diagonal. Apesar de estar disposta a se vingar de todas as gracinhas que Lusmore fizera desde o dia anterior, Mina acabou por se compadecer do rapaz, e forçou-o a dividir o peso com ela (pois, apesar dos pesares, ele não queria deixá-la carregar as sacolas).

Na Floreios e Borrões, ela comprou mais um livro: "Como deixar seus amigos (e inimigos) de cabelos em pé", além de um bolo de cartões.

- Você pode me deixar no correio e ir comprar o presente do tio Godfrey? - ela perguntou, quando já subiam para o último endereço do dia - Aí eu vou escrevendo os cartões e mandando, e vamos mais rápido.

- O que você quer dar para o Godfrey?

- Um canivete novo.

Ele assentiu.

- Tudo bem, então. Mas não saia do correio, daqui a pouco começa a escurecer.

A lua já se descobrira no céu quando afinal os dois se viram completamente livres de suas cargas.

- Para casa? - ele perguntou, já fora do Caldeirão Furado.

Mina respirou fundo, assentindo.

- Definitivamente, para casa.

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quarta-feira, janeiro 24, 2007

Extras - Dolls


Embora eu não tenha escrito esse post, essa montagem é referente a uma visita que Mina e Hilde fizeram ao sótão do solar MacFusty, onde encontraram algumas roupas da Vó Stella...

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Máfia Natalina
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Natal no Solar - Família Reunida
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Natal - Voltando para Hogwarts


Samantha foi a primeira das mafiosas a chegar à estação, muito embora só faltasse pouco mais de vinte minutos para que o trem começasse sua viagem. Atravessou os vagões, atrás de uma cabine em que poderia se acomodar e esperar as amigas e, já estava lá pelo meio do vagão quando sentiu um par de mãos segurarem-na pelos ombros.

- Sam?

- Lore! - Sam se jogou nos braços da amiga.

- PU!

Lorelai sorriu, enquanto Fofoso pulava de seu bolso, aconchegando-se junto ao pescoço da lufana.

- Já arranjou uma cabine para a máfia? - Lorelai perguntou, puxando o malão para sair do caminho das pessoas que passavam apressadas por elas.

- Estou providenciando. - Sam respondeu - Cadê a Fê?

- Encontrou a Heather lá na frente e as duas começaram a discutir sobre o presente que ganharam de natal da Mina. Acredita que ela deu o mesmo livro para as duas? Está querendo formar uma nova legião de domadores... - Lore riu - E a Ella?

- Ocupada com alguns colegas. - Sam deu de ombros, enquanto seu olhar vasculhava o vagão - Hei, parece que aquela cabine ali está vazia!

- Ótimo! Vamos logo antes que alguém nos atropele! - Lore exclamou, pondo-se a caminho.

Finalmente as duas se viram completamente instaladas e confortavelmente acomodadas. Sam sentou-se preguiçosa, com Fofoso pulando em sua barriga, enquanto Lore pregava o nariz junto às vidraças, assistindo o movimento dos alunos que chegavam para o embarque.

- Quais são as chances daquele primo da Mina vir acompanhando-a hoje? - Sam perguntou, pensativa.

- Zero. - Lore respondeu, apontando para algum ponto da plataforma - Ela acaba de chegar e está acompanhada de um casal... Considerando que a mulher está grávida, imagino que aquela seja a mãe dela.

- A mãe da Mina? - Sam perguntou, arregalando os olhos - Hei, será que ela é tão louca quanto a filha?

As duas se imprensaram contra a vidraça e Sam pode descobrir que, apesar de serem um tanto parecidas fisicamente, Lucy não parecia nem de longe ter o mesmo tipo de personalidade que a filha.

- Ela é tão séria... - Lore observou - E elegante...

- Será que a Mina vai ficar daquele jeito quando crescer?

Lore meneou a cabeça.

- A mãe dela é bonita, mas falta alguma coisa de leveza nela... É como se a gente estivesse vendo uma pintura incompleta... Falta...

- Falta o sorriso da Mina. - Sam completou, assentindo - Mas a própria domadora não parece muito bem hoje, não?

A grifinória assentiu.

- Ela está parecendo meio abatida. Será que aconteceu alguma coisa?

Lá fora, Lucy parou junto a portão de embarque, enquanto Godfrey subia ao trem, puxando o malão de Mina, que mantinha-se de braços cruzados, puxando o casaco para junto do corpo.

- Quando chegar à escola, procure a enfermaria e consiga os remédios que Holly ordenou que você tomasse. - Lucy avisou, puxando o xale que usava sobre os ombros, de uma maneira muito parecida com a que a filha fizera há pouco.

- E a senhora pode mandar minhas desculpas para meus padrinhos, Hilde e Rylan? Porque fiquei doente, eu não pude nem me despedir deles.

Lucy assentiu.

- Eu direi a eles. Agora suba logo.

Godfrey sorriu de leve, puxando a menina pela mão.

- Ela parece um pouco mais receptiva esse natal, não? - ele observou, enquanto a guiava entre os alunos que lotavam os corredores do trem.

- Ela é minha mãe ao final das contas. E eu sou apenas uma criança. - Mina respondeu, tristemente - Ela estava preocupada.

- Ela quer que você seja forte. - Godfrey observou por fim.

- Mina!

Os dois se viraram, já quase ao fim do vagão. Lorelai e Sam tinham acabado de abrir a porta da cabine delas e acenavam para eles, sorridentes. Mina também sorriu, dirigindo-se para elas.

- Olá, meninas.

- Oi, Mina! - Lore cumprimentou - Esse é o seu pai?

Sam abraçou Mina com força, enquanto a outra já virava os olhos. Godfrey sorriu, enquanto guardava o malão de Mina na cabine delas. Godfrey sorriu, enquanto guardava o malão de Mina na cabine delas.

- Na verdade, sou apenas o tio.

- O famoso tio Godfrey? - Sam perguntou.

- Não sabia que era famoso... - Godfrey riu, abaixando-se de leve enquanto colocava uma mão sobre os ombros de Mina - Cuide-se, pequena. E não se esqueça de tomar os remédios.

- Você está doente? - Lore questionou, preocupada.

- Só um pouco gripada. - Mina sorriu, balançando a mão - Não se preocupe, tio, eu vou ficar bem.

- E, qualquer coisa, mande uma carta, certo? - ele pediu, aprumando-se - Nós nos veremos nas férias de páscoa. Até lá, meninas. Ah, sim, e, antes que eu me esqueça... - ele tirou alguns chocolates do bolso - Para a viagem. E separe alguns para Suzannah.

Mina assentiu.

- Sim, senhor.

Com isso, Godfrey se despediu e, sob a conversa alegre das amigas, Mina afinal entrou na cabine.

Posfácio Japão: Hilde


- Lar, doce lar! - Hilde suspirou, largando as malas no meio da sala, enquanto se jogava no sofá.

Rylan, que vinha entrando logo atrás dela, bufou, ao mesmo tempo em que revirava os olhos.

- Hilde, você se importa em tirar sua tralha do meio para abrir passagem?

- Você pode pular por cima. - ela respondeu, dando de ombros.

- Merlin, me dê um único bom motivo para eu não cometer fraticídio nesse exato instante...

Hilde sorriu.

- Se você matar sua querida irmãzinha, como vai se aproximar de Asuna-chan? Ela ficará muito sentida com meu desaparecimento, sabia? E creio que não irá querer saber de conversar com o assassino de sua melhor amiga.

- Talvez esse ainda fosse um preço pequeno a pagar para me livrar de você. - Rylan suspirou.

- Vocês já estão brigando? - Ceres acabara de passar pela porta, segurando a bolsa com o que restara dos lanches da viagem - Hilde, trate de tirar sua bagagem do meio da sala!

Rylan deu um sorriso vitorioso para a caçula, que apenas se levantou de má vontade, arrastando os pés e pegando suas malas, dirigindo-se finalmente para o próprio quarto.

Depois de largá-las novamente ao pé do guarda-roupa, ela jogou-se em sua cama, abraçando um estranho bichinho de pelúcia.

- Olá, Mokona! Sentiu minha falta?

Da sala, veio a voz de seu pai, perguntando porque eles precisavam ter trazido tantos livros de Londres, ao que a mãe respondera com algo que ela não conseguira entender, mas que calara completamente o velho professor Edward.

Hilde revirou-se na cama, ficando de barriga para cima de modo a poder encarar o teto, sem largar o Mokona branco. Dali a dois dias, a barca vinda de Suzuko chegaria com os alunos e as aulas teriam reinício. Entretanto, estava mais preocupada com o que deixara em Londres que com o futuro próximo.

Como estaria Mina? Será que melhorara da gripe? Sequer conseguira se despedir dela... Tampouco de Lusmore, que sumira poucos dias depois de ter trazido a menina de volta para casa, de uma das rondas pelas ilhas atrás de dragões jovens. Hilde não precisava ser um gênio para perceber que o primo gostava da jovem domadora, mas vê-lo quase desesperado com Mina nos braços fora uma cena digna de um mangá shoujo...

Suspirou de leve. Infelizmente, para Lusmore, o sentimento não era recíproco. Por que esse tipo de coisa sempre tinha que ser tão complicada?

- Eu que o diga... - ela resmungou baixinho para si mesma.

Aproximado-se da janela, ela vislumbrou os terrenos vazios da escola. Dali a dois dias, aquilo estaria novamente pululando de gente cheio de alunos. Hide não pode evitar de sorrir. Estava de volta a sua casa. Amaterasu, o lar do sol...

Natal - De cama


Respirou fundo, sentindando uma dor estranha no peito. O ar estava quente, quase sufocante. Nesse momento, algo gelado poucou em sua testa e ela pode ouvir o som de vozes melodiosas ao seu redor. Vozes que falavam em uma língua antiga...

Holly e Lusmore.

Ela entreabriu os olhos com esforço, enxergando as silhuetas dos dois. Pouco depois, ouviu o som de uma porta batendo e outra voz soou, dessa vez, em inglês.

Lucy.

Holly também deixou o quarto, deixando as duas sozinhas. Foi então que Lucy percebeu que a filha estava acordada.

- Você está bem? - a mulher perguntou com o tom calmo, aproximando-se da cama.

Mina assentiu com a cabeça.

- O que aconteceu?

- Você passou os dois últimos dias de cama, delirando e com febre. - a mãe respondeu - Quando Lusmore trouxe você, ele também parecia particularmente preocupado. Trancou-se na biblioteca com seu avô, Godfrey e Jonathan e eu tenho a ligeira impressão que ele gritou um pouco com eles. Ele é um rapaz um tanto quanto atrevido, se me permite dizer.

- Por que Lusmore iria gritar com eles? - Mina perguntou, sentando-se na cama - Eu entenderia se ele resolvesse gritar comigo, afinal, eu chamei a atenção do dragão mesmo sem querer, mas...

Os olhos dela nublaram-se ao se lembrar do que acontecera. A luz dourada... Os olhos púrpuras... Não precisou de muito para entender. Ela conhecia a natureza dos dons de Lusmore. Conhecia o poder druídico dele e de Holly e sabia que ela também tinha parte dessa magia correndo em suas veias, afinal, suas famílias compartilhavam troncos comuns.

Lusmore lera sua mente. Por isso ficara tão irritado. Ele provavelmente queria que tivessem contado a ele desde o início o que acontecera. Fora por isso que ele deixara Lyon, aliás. Podia ter suas diferenças com Lusmore, mas sabia que ele se preocupava com ela. E ele voltara exatamente por isso.

Para protegê-la.

Não deveria ter escrito para ele, pedindo ajuda com Chenoweth. Deveria ter escrito diretamente para o velho jornalista. Por que diabos fora inventar de colocá-lo no meio da história? Agora só atraíra mais confusão para casa.

O pior é que Lusmore agora sabia de coisas que não contara para ninguém ainda. Ele vira sobre o Olho do Grifo, vira sobre Victor e David Fenwick... O que ela faria agora?

- Onde ele está? - Mina se ouviu perguntar, percebendo vagamente que a mãe se sentara à beirada de sua cama, e passava distraída as mãos sobre os lençóis brancos que envolviam a filha.

- Ele acaba de se despedir de Holly. Disse que tinha que ver algumas pessoas... - Lucy a encarou com atenção - Ele agora sabe mais do que nós, não é, Mina?

Os olhos da garota se arregalaram. Como sua mãe podia saber disso? Lucy, por sua vez, deu um meio sorriso, enquanto se levantava.

- Amanhã você irá voltar para Hogwarts. Eu espero poder confiar em você, Mina. - abrindo a porta, ela deu as costas a filha - Tenho certeza que saberá se cuidar.

Natal - Chama de Prata


- Mina, você se importaria de ficar quieta por um instante?

Ela revirou os olhos, mas nada disse. Em vez disso, voltou-se para o relógio que sempre levava no bolso. Faltavam poucos minutos para a meia-noite.

Tinham deixado os cavalos para trás, amarrados junto a uma das cachoeiras que abundavam nas ilhas escarpadas. Lusmore seguia por trilhas que Mina não conseguia ver, mas que sabia existirem. De quando em quando, ela pensava ter visualizado um marco qualquer, mas eram impressões muito tênues. Sabia que ainda levaria um bom tempo até que tivesse os sentidos aguçados o suficiente para ler aquelas trilhas, mas isso não significava que não pudesse ir tentando.

Finalmente, pararam junto a uma clareira. Lusmore ajoelhou-se, em absoluto silêncio, afastando alguns arbustos, de modo a permitir que vissem alguma coisa.

- Dê a volta em silêncio. - ele murmurou para ela, apontando para a esquerda.

Esse era o terceiro covil que visitavam. Os dragões, em geral, não passavam ainda de filhotes. Muito cedo, deixavam seus ninhos e tratavam de conseguir levar a vida por si mesmos. Animais extremamente individualistas, os dragões - foi o que Mina pensou, enquanto obedecia as ordens de Lusmore.

Tudo o que tinham que fazer é visitar aqueles locais em que os jovens estavam entretidos e mapear seus territórios. Isso fornecia pistas dos lugares em que poderiam haver duelos entre os dragões, quando mais velhos - quanto mais próximos estivessem os territórios, mais fácil disso ocorrer - e ajudava a evitar problemas.

As botas de couro chapinharam de leve na neve recém derretida, enquanto ela parava junto ao ponto que Lusmore lhe indicara. Ergueu os olhos, ajeitando os óculos, que tinham escorregado para a ponta do nariz. À meia luz da lua, era possível ver o grande vulto deitado, os espinhos dorsais recortados contra as pedras das montanhas ao redor.

Mina quase podia sentir a respiração do dragão.

Foi nesse momento que ela percebeu que era observada. Não fora silenciosa o suficiente. Ou talvez, estivesse a favor do vento e não percebera. Ela mordeu os lábios de leve, pouco antes de suas pupilas encontraram-se com as do animal. Mina sentiu a boca secar, enquanto seus olhos ardiam com lágrimas não derramadas.

Fogo... Gritos... O ruflar de asas negras...

Os olhos daquele dragão eram de um púrpura iridescente. Entretanto, ainda havia raias de prata em sua pupila, o que atestava que o animal não saíra completamente da puberdade.

Chama de Prata.

Ele ergueu-se suavemente sobre as patas traseiras, sem desviar dela nem por um instante. Mina viu-se refletida naqueles olhos enormes, completamente paralisada. Seu coração batia descompassado e, aos poucos, o ar frio que sempre imperava nas montanhas e vales das Hébridas tornou-se cálido, enquanto o dragão descerrava as mandíbulas.

Uma voz melodiosa gritou alguma coisa, numa língua que ela conhecia, embora naquele instante, não fosse capaz de reconhecer. No fundo da garganta aberta do animal, uma bola de fogo crescia. Ela sentiu subitamente um peso estranho sobre o corpo, jogando-a no chão. Meio segundo depois, labaredas irromperam sobre o lgar onde ela estivera, espalhando-se até as árvores, que rapidamente começaram a arder e crepitar, chorando por seu fim.

- Mina!

Ela virou-se, encarando a face de Lusmore muito próxima. Em seguida, seus olhos se voltaram para Chama de Prata. O dragão abaixou a cabeça, emitindo um longo e estreidente grito antes de abrir as asas, planando novamente rumo à escuridão.

Na clareira em chamas, Lusmore se levantou, forçando-a a fazer o mesmo para, em seguida, começar a correr, afastando-se do incêndio que começava a crescer.

Tão logo viram-se em um lugar seguro, ele voltou-se para ela, empurrando-a violentamente, fazendo com que ela batesse contra o tronco de uma árvore.

- Você está louca? Estava querendo morrer? Nós viemos apenas para observar, não para enfrentar dragões! Da próxima vez, vou deixar que você vire churrasquinho de MacFusty e depois te levo num espeto para o seu avô.

Ele podia esperar por uma resposta. Estava pronto até mesmo para receber alguns tapas e chutes. Entretanto, nada podia prepará-lo para o que veio a seguir.

Mina abaixou a cabeça, cerrando firmemente os pulsos. Um soluço escapou de sua garganta antes que grossas e brilhantes lágrimas começassem afinal a correr pelo rosto da menina. Lusmore observou-a, surpreso. Nunca vira Mina chorar, mesmo quando a provocava deliberadamente pra tanto.

Ela fora uma criança reservada e tímida, embora tivesse alguns rompantes de carinho, especialmente com Godfrey McKinnon. Quando ele a provocava, ela costumava sair de seu mutismo, assaltando-o com respostas que, de primeira, sempre o deixavam sem reação. E, se ele realmente conseguisse irritá-la, era quase certo passarem o restante do dia correndo, ela logo atrás dele, disposta a utilizar todas as técnicas existentes para infligir a maior quantidade de dor possível a ele.

Mas ela nunca fraquejara na frente dele. Ligeiramente hesitante, ele se aproximou dela. Alguma coisa acontecera para que Mina mudasse. E ele precisava saber o que fora. Com cuidado, ele voltou a puxá-la pelos pulsos, abraçando-a. Imediatamente, ela escondeu o rosto em seu peito. Lusmore respirou fundo, colocando uma mão na nuca dela.

Em seu pulso, uma pulseira de couro aparentemente comum começou a brilhar com uma luz dourada. O mesmo símbolo que adornava a pulseira caía do colo de Mina, o presente que Holly dera a ela em seu aniversário. Um triskelion.

- Anam amhrán, ceobhrán cuhma... Marana, rioghain... Marana...*

Mina arregalou os olhos, ouvindo as palavras da antiga canção, antes de sentir o corpo relaxar e deslizar, mansamente, rumo à inconsciência. Lusmore segurou o corpo inerte dela, enquanto as cenas que persistiam na memória de Mina até instantes atrás passavam céleres por suas pupilas, como se ele houvesse estado com ela durante todo o desenrolar dos acontecimentos.

Ele apoiou-se por alguns instantes contra o tronco de uma árvore, tentando acostumar-se com o volume de informações que, de repente, incorporara-se às suas memórias.

O bardo das lembranças... Era como ele ficara conhecido entre os outros druidas. Não gostava muito de usar aquele dom, embora fosse sua melhor magia. Ela era cansativa e, em termos estritamente éticos, um invasão completa à privacidade do atingido por ela.

Mas aquele caso era uma urgência.

Quando voltou a conseguir se firmar nas pernas, ele puxou o corpo de Mina para junto de si. Ela estava quente...

- Febre... Que maravilha... - ele resmungou para si mesmo, começando a andar.

Tinha que pegar os cavalos e, depois... Seria uma longa caminhada até o solar.


Nota:
*Canção da alma, névoa da saudade... Contempla, rainha... Contempla...

Natal - Observações


Os dias se passaram rapidamente. Logo estavam diante de um novo ano. O frio ainda era intenso, mas, protegida por uma capa grossa, Mina acostumara-se a cavalgar Finvara todas as manhãs. Hilde costumava acompanhá-la, enquanto Rylan e Lusmore praticavam com as espadas do primeiro (que tinha particularmente se apaixonado pela katana que Mina lhe entregara de natal).

Além disso, a garota agora passava bem mais tempo com a mãe. Não que conversassem muito. Lucy nunca fora de muitas palavras. Então, à tarde, Mina escolhia um livro ao acaso na biblioteca do avô e seguia para o quarto de Lucy, onde ficava com ela até a hora do chá. Por vezes, as duas mantinhas breves diálogos. E, de quando em quando, Mina tinha a ligeira impressão de pescar um sorriso calmo nos lábios da mãe.

Talvez os hormônios da gravidez tivessem abrandado um pouco o caráter severo da mulher. Ou talvez fosse influência de horas e horas diárias de The Phantom of the Opera ecoando pela casa. Quando Mina dera o cd a Lusmore, não imaginou que ele fosse gostar tanto do presente. Tinha certeza que pelo menos umas duas costelas tinham se deslocado com o abraço que ele lhe dera.

Jonathan, por sua vez, dificilmente parava em casa. Sempre que ele passava pela porta do alpendre, alguém lhe surgia como que magicamente, para conversar sobre algum estudo ou pesquisa nova. Edward particularmente aparecia todos os dias e os dois amigos passavam horas conversando, especialmente sobre o trabalho que desenvolveriam juntos no Japão tão logo terminassem os feriados.

Godfrey também apresentava-se particularmente ocupado. Sendo inverno e tendo pouca comida nas montanhas, os dragões tornavam-se mais ariscos e atrevidos, chegando a fazer incursões sobre o litoral. Como líder dos domadores das Hébridas, ele tinha que estar sempre vigilante, mas, dia sim, dia não, arranjava tempo para dar uma olhada nos treinamentos de Mina, que melhorara sensivelmente com o arco.

Não demoraria muito até que ela tivesse permissão de começar a trabalhar com as bestas.

- As férias estão quase chegando ao fim. - Mina observou.

Hilde largou-se ao lado dela nas escadarias do alpendre, exausta pela corrida que tinham feito aquela manhã.

- Minhas pernas doem. As batatas das minhas pernas doem. Minhas costas doem. Meus braços...

Mina sorriu.

- Eu disse que você deveria usar a sela se não estava acostumada.

- Mas você estava cavalgando sem ela e parecia tão fácil... - Hilde observou, emburrada.

- É que eu estou acostumada com os cavalos. - Mina sorriu - Além disso, tive um professor excepcional. Não há como não aprender alguma coisa quando é tio Godfrey quem está ensinando.

- Você gosta muito dele, não é? - Hilde também sorriu.

- De quem vocês estão falando? - Lusmore perguntou, enfiando a cabeça entre as duas.

Quase que imediatamente, elas afastaram-se para o lado, surpresas. Hilde ainda conseguiu se segurar no corrimão das escadas, mas Mina acabou escorregando e caindo de costas no gramado, as pernas levantadas, numa cômica posição. Por sorte, nevara muito nos últimos dias.

O que não impedira de Lusmore cair na gargalhada, seguido por Rylan, que estava logo atrás dele.

- Eu dava tudo para ter uma máquina fotográfica aqui, Mimuca... Essa pose está perfeita. - Lusmore observou, ainda rindo.

Mina revirou os olhos, colocando as mãos dramaticamente sobre o coração.

- Você está tentando me infartar, não é, seu maluco?

- A maluca por aqui é você. - ele respondeu, endireitando-se.

Mina preparou-se para responder, mas, nesse instante, Rylan estendeu a mão para ela.

- Não se preocupe com ele, Mina-chan. Além disso, veja por esse ângulo... Loucura é quase um problema de família. E, querendo ou não, todos aqui temos o mesmo sangue. O que significa que, obviamente...

- Ele não escapa à maldição dos MacFusty. - Hilde ajuntou, fazendo uma careta de terror.

- Vocês falando dessa maneira, dá até medo, sabia? - Lusmore observou, colocando os braços para trás da cabeça - O que me lembra... Godfrey pediu que eu fosse dar uma olhada em uns dragões mais jovens essa noite, Mina. No sopé da montanha. Você quer ir comigo?

Os olhos dela brilharam.

- Eu posso?

- Se não pudesse, eu não estaria chamando, Mimuca. - ele respondeu, passando a mão de leve na cabeça dela.

Depois disso, o dia passou-se sem maiores acontecimentos e, na opinião de Mina, extremamente devagar. Depois do almoço, Rylan e Hilde tinham se despedido, e ela então se recolhera aos aposentos da mãe, onde permanecera com Lucy até que Jonathan apareceu, já ao fim da tarde.

- Lusmore acaba de me dizer que vai levá-la com ele na ronda noturna, Mina. - o homem observou, pouco depois de ter cumprimentado as duas.

- Ele disse que íamos ver os animais mais jovens. - ela respondeu, sorrindo, enquanto fechava o livro daquela tarde, uma versão bruxa do Fausto de Goethe.

Jonathan assentiu, trocando um breve olhar com Lucy. Àquela tarde fora estranha para Mina, pois, muito embora estivesse acostumada com o silêncio da mãe, lhe era um tanto incômodo sentir o olhar dela o tempo todo sobre si, como se Lucy tivesse alguma coisa para lhe dizer, mas não soubesse como falar.

A garota se levantou, espreguiçando-se.

- Bem, eu vou ir me arrumar. Jantar cedo e depois preparar Finvara.

- Mina? - a voz de Lucy finalmente soou, quando a menina já estava à porta.

Ela se virou, encontrando Jonathan segurando a esposa pelo braço, ajudando-a a se levantar.

- Senhora?

Foi Jonathan quem completou.

- Tome cuidado.

Natal - Mãe e filha


Mina bufou quando ele deu mais um tapa em sua cabeça. Embora quisesse reagir, estava achando muito difícil naquele instante colocar a mão para fora da manta e assim, pregar um tabefe na cabeça daquele chato.

- Me deixa em paz, Lusmore.

- Não deixo não. - ele respondeu, sorrindo - Quem mandou sair nesse frio, sem agasalho? Se eu fosse seu avô, teria pego o Finvara de volta e ainda te deixado de castigo.

- Ainda bem que você não é meu avô então. - ela respondeu de maus modos.

- Mas vou ser seu marido daqui a alguns anos, então, trate de começar a aprender a me obedecer ou eu vou cumprir minha promessa de mantê-la presa num quarto escuro para o resto da sua vida, Mimuca.

Ela arqueou a sobrancelha, o que só lhe dava um aspecto mais cômico combinado aos lábios roxos e aos dentes que não paravam de trincar.

- Eu preferiria morrer a me casar com você, Lusmore. Eu me jogava em um ninho de dragões, visitava a toca de alguma serpente marinha, fazia piqueniques com acromântulas... Mas certamente não me casaria com você. - ela bufou novamente - Mesmo porque, seria quase um incesto.

Lusmore voltou a sorrir.

- Eu não sou seu irmão, Mimuca. Esse pequeno detalhe técnico invalida totalmente sua argumentação. Além disso... - ele cruzou os braços nesse instante - O certo seria você dizer que nao se casaria comigo porque não me ama. Mas você nunca utilizou essa possibilidade.

- Você anda lendo romances demais, senhor bardo. - Mina resmungou em resposta - E quando eu disse que seria um incesto, eu adicionei a palavra "quase". Ou seja, como fomos criados juntos, somos quase como irmãos, o que faria dessa sua idéia maluca um quase incesto.

- Você adora enrolar todo mundo, não é Mimuca?

- E não me chame de Mimuca. - ela suspirou, encolhendo-se mais na manta, enquanto erguia os pés na direção da lareira - Onde está a Hilde?

- Foi para casa. - ele respondeu, sentando-se aos pés da cadeira dela, mexendo no fogo com um atiçador - Rylan passou por aqui enquanto você estava fora e a chamou para terminar de arrumar a árvore.

- Ela vai vir para a ceia hoje de noite? - Mina perguntou, esfregando o nariz.

Ele meneou a cabeça.

- Ela vai ficar com o resto da família dela, Mina. Mas ela mandou avisar que volta aqui amanhã. E disse que você cavalgava muito bem.

- Alguma coisa eu tinha que saber fazer desse treinamento de domador. - ela retrucou - Embora eu já tenha dominado razoavelmente bem o arco, sofri um bocado com aquelas dedaleiras. Mas cavalos eu conheço desde criança.

- O que me faz pensar quando você deixou de ser uma...

- Você pode parar de me provocar? Eu estou com dor de cabeça!

- Culpa sua. Ninguém manda sair correndo debaixo da neve.

Ela revirou os olhos, preferindo ficar calada. Se continuasse a responder, aquela discussão iria longe, pois nenhum dos dois estava acostumado a ceder terreno e ela não se sentia muito bem naquele momento para ficar brigando. Foi quando uma batida suave soou na porta e, em seguida, a maçaneta girou, revelando o perfil de Lucy MacFusty.

Lusmore e Mina se encararam e a garota fez um discreto aceno com a cabeça, ao que ele se levantou e deixou o quarto dela, fazendo com que mãe e filha ficassem sozinhas.

- A senhora está bem? - Mina perguntou, levantando-se com certa dificuldade, já que relutava em soltar a manta.

- Você foi muito irresponsável hoje de tarde. - Lucy observou, cruzando o quarto e sentando-se à beirada da cama de Mina, a mão posta sobre o ventre.

- Hum... Bem... Digamos que eu tenha me empolgado um pouquinho. - a menina respondeu, tímida, abaixando o olhar diante do semblante sério da mãe.

As duas ficaram alguns instantes em silêncio, até que a mulher se pronunciasse novamente.

- Você cavalga muito bem. Foi Godfrey quem te ensinou?

Mina voltou a erguer a cabeça, curiosa. Lucy olhava pela janela, com os olhos claros, a neve cair lá fora, enquanto o vento assobiava contra as frestas da janela.

- A senhora estava me vendo?

- Eu vi da janela. - Lucy respondeu, um ligeiro sorriso perpassando por seus lábios, embora tenha sido tão rápido que Mina não tinha certeza se ela realmente sorrira - Como estão as coisas em Hogwarts? Desde que você chegou, mal tivemos tempo de conversar.

- Eu estava muito cansada quando cheguei. - Mina disse, muito embora na realidade, tivesse sentido mais raiva que cansaço no dia em que chegara - Depois vocês vieram pra cá, o papai foi bater a ilha com os outros domadores, e a senhora passou os dias trancada no quarto, se sentindo mal... Eu preferi não aborrecê-la.

Os olhos de Lucy brilharam e Mina quase poderia antever as palavras dela, visto o que ela aprontara com Finvara.

- Você preferia não me aborrecer? - havia um ligeiro tom de ironia nessas palavras.

- Hum... - desesperadamente, ela procurava palavras para continuar aquele estranho diálogo.

Lucy voltou a desviar o olhar para a janela.

- O que você acha do nome Kieran?

Mina piscou os olhos, confusa.

- Hein?

- Eu fiz uma pergunta simples, Mina. - Lucy retornou - O que acha...

- Eu entendi essa parte, obrigada. - a menina respondeu, voltando afinal a se sentar, enquanto cruzava as pernas em cima da poltrona - É um belo nome. Por quê?

- Será o nome do seu irmão. - a outra respondeu simplesmente, sem encará-la - Kieran Arcturus Westenra MacFusty.

- Kieran... - Mina testou o som da palavra, sorrindo de leve - Eu gostei.

Lucy voltou a levantar-se.

- Vá tomar um banho quente e se agasalhar-se. Há muito que se fazer para a ceia.

- Sim, senhora. - Mina assentiu, enquanto a mãe voltava-se elegantemente para a porta.

Já estava caminhando para o banheiro, quando ouviu a voz da mãe chamá-la mais uma vez.

- E, Mina?

- Senhora?

O semblante de Lucy relaxou quase imperceptivelmente.

- Você não teria me aborrecido se tivesse ido me procurar.

Natal - Finvara (24/12)


- Vocês passaram a manhã arrumando os guarda-roupas da Mina? - Lusmore perguntou, sentando-se ao lado das meninas na bancada da cozinha - Não creio...

- Bem, que eu saiba, isso não é da sua conta. - Mina sorriu ironicamente, enquanto mexia o strogonoff que Holly acabara de lhe servir.

Hilde riu discretamente, enquanto levava uma garfada à boca.

- Hei, Lusmore, o Ryl não quis vir com você?

- Ele disse que não ia se meter na casa de ninguém na véspera do natal, visto não ser tão inconveniente quanto a irmã. - Lusmore respondeu, também sorrindo.

A jovem Rostand revirou os olhos.

- Ele só disse isso porque foi você quem foi lá, então, ele não precisou vir aqui atrás de você.

- Além disso, se formos pensar direito, isso significa que ele chamou VOCÊ de inconveniente, Lusmore. - Mina observou, com um sorriso cada vez mais maligno - Obviamente, você foi obtuso o suficiente para não perceber as entrelinhas do que seu amigo lhe disse...

Essa era uma das raras vezes em que Lusmore se via sem argumentos diante de Mina. Para não ter que procurar alguma coisa para responder, ele simplesmente encheu a boca de arroz, e ficou mastigando, pensativamente. Mina e Hilde se encararam, dando sorrisinhos idênticos.

- Vejo que já fizeram amizade. - Godfrey, que acabara de entrar na cozinha, observou, divertido - O que, devo acrescentar, parece ter sido um grande azar para o Lusmore. Estava ouvindo a conversa de vocês lá fora.

- Apenas estamos unindo esforços em nossa cruzada contra os CCC.

- Perdão? - Lusmore perguntou.

- Chatos Chatonildos da Chatolândia. - Hilde respondeu.

- Isso não foi muito criativo. - ele observou, ligeiramente emburrado.

- Você só fala isso porque está na berlinda dessa vez. - Mina respondeu - O que acha disso, "Lulu"?

- Então é uma vingança, Mimuca? - ele perguntou, sorrindo.

Godfrey suspirou, enquanto Holly meneava a cabeça.

- Não adianta. Eu já desisti desses dois há muito tempo. Godfrey. - Holly suspirou, resignada - Parecem até cão e gato, nunca vi para gostarem tanto de brigar.

Mina ficou em silêncio, pensando em como tinha sorte de Holly não saber nada do que aprontava em Hogwarts...

- Mina, você pode vir aqui um instante? - a cabeça de Vincent apareceu no vão da porta da cozinha e ele observou a neta, sério.

- Eu juro que não fiz nada, vovô. - ela respondeu, pondo-se em pé.

Hilde e Lusmore se encararam, rindo baixinho. Godfrey apenas meneou a cabeça, enquanto Holly voltava-se para o balcão da cozinha, procurando alguma coisa que pudesse servir a uma Lucy extremamente enjoada (e que não deixara ainda seu quarto desde que chegara à ilha). Dividida entre a curiosidade e o receio - afinal, não era muito comum ver o avô com a cara tão séria, Mina seguiu para fora da cozinha, para em seguida ser guiada pelo avô até o alpendre do solar.

Lá fora, um magnífico cavalo erguia o focinho, cheirando o ar fresco. O pêlo era profundamente negro, embora junto às patas houvesse raias de branco. Mina não precisava olhar para ele duas vezes para perceber que estava diante de um dos animais que tinham vindo com os primeiros MacFusty para as Hébridas, os philipens.

Era uma raça híbrida dos cavalos selvagens das planícies européias com testrálios. Não podiam voar ou se tornar invisíveis, mas, em compensação eram muito mais rápidos e corajosos que seus ancestrais comuns. Os domadores utilizavam esses cavalos para suas rondas e caçadas pela ilha, pois eram eles os únicos que não temiam enfrentar um dragão, ainda que fossem colocados um diante do outro.

Mina o observava quase hipnotizada. Era um belíssimo animal. Quando era criança, antes de ir para Hogwarts, ela sempre insistia com o avô para que deixasse ela montar um deles, mas o máximo que conseguira fora cavalgar nos animais que o clã mantinha para os serviços comuns. Apesar de ser uma sedentária contumaz, havia duas coisas que ela sempre gostara de fazer: nadar nos mares gelados que cercavam as ilhas e cavalgar.

- Este é Finvara. - ela ouviu a voz do avô, como se viesse de muito longe.

- Finvara? - ela repetiu, bobamente.

Vincent assentiu.

- Ele será o seu cavalo agora que está prestes a começar seu treinamento. É filho de Erin, a égua de Christopher. Mas deve tomar muito cuidado, porque Finvara ainda não é completamente dócil. - aos poucos, o velho patriarca relaxou, deixando que um tênue sorriso surgisse em seus lábios - É seu presente de natal.

O sorriso que Mina deu para ele seria capaz de iluminar até uma noite sem lua.

- Muito obrigada, vovô! Ele é perfeito!

Ela rapidamente abraçou o avô pela cintura, antes de pular os degraus do alpendre, aproximando-se cuidadosamente de Finvara. Os dois se encararam com seus olhos escuros por alguns instantes. Vincent também se aproximou, pousando a mão sobre o ombro da neta.

- Ofereça um torrão de açúcar para seu cavalo. - ele disse, entregando a ela alguns dos doces que trazia no bolso.

Cuidadosamente, Mina aceitou os torrões e ofereceu a mão na direção de Finvara. O cavalo aproximou-se, desconfiado, cheirando-a demoradamente, antes de encostar o focinho frio à pele quente dela. Mina riu baixinho, sentindo cócegas, enquanto Finvara aceitava o presente. Vincent também sorriu, erguendo a cabeça. os primeiros flocos de neve daquele natal começaram a cair sobre seu rosto.

- Acho melhor voltarmos para dentro e... - ele começou.

Antes, entretanto, que pudesse observar sobre como o tempo estava começando a ficar frio, ele ouviu o relichar suave de Finvara e, no instante seguinte, o cavalo estava galopando rápido.

Com Mina agarrada a sua crina.

- MINA!!! - Vincent gritou.

Tarde demais. Ela já estava muito longe para ouvi-lo. Holly apareceu nesse instante, parando ao seu lado.

- O almoço dela vai esfriar. Você poderia ter esperado que ela terminasse de comer. - a velha governante observou.

- E ela podia pelo menos ter pego uma capa. - ele suspirou, resignado.

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Natal - Conversas


- QUÊ???? Eu não acredito que você nunca tenha lido um mangá na vida!

Sentada na cama de Mina, Hilde observava pasma a prima, que ia de um lado para o outro do quarto, arrumando as coisas que tinha trazido no malão. Tinham chegado às Hébridas no dia anterior já quase de noite, por conta de uma pequena confusão ministerial - a chave de portal que transportaria a família para o solar dos MacFusty só fora liberada ao final da tarde.

Quando chegaram, os Rostand quase que imediatamente se despediram, pois tinham que ir para a casa da velha Eve Morel, a mãe de Ceres e tia de Vincent. Christopher, que era outro dos primos da família Morel e que a garota conhecia de longa data aparecera para levá-los. Mina, por sua vez, passara o resto da tarde com o avô, conversando sobre Hogwarts e sobre as Hébridas. Depois, passara a biblioteca, onde se enfurnou para ler até a hora de ir dormir.

Não vira ainda os pais, embora já fosse véspera de natal. De acordo com Vincent, Jonathan fora com outros domadores visitar alguns ninhos de dragão e Lucy passara o dia sentindo-se indisposta por conta da gravidez. Por diversas vezes, Mina pensara em aparecer no quarto da mãe para perguntar se ela precisava de alguma coisa, mas acabou por se quedar quieta em seu canto.

Quando acordara, recebeu o já tradicional sermão de Holly sobre como o quarto dela já estava bagunçado e como ela precisava se comportar como uma garota crescida (e, nesse momento, Mina agradeceu aos céus por Lusmore ter saído cedo para ir visitar Rylan). Portanto, sua tarefa naquela manhã era pôr em ordem o quarto e o guarda-roupa, e fora no meio dessa arrumação que Hilde chegara.

Sem cerimônia, a prima tirou os sapatos junto à porta, rapidamente sentando-se na cama de Mina, com as pernas cruzadas, enquanto tagarelava sobre os mais diferentes aspectos de sua vida na Amaterasu. Mina ouvia, curiosa, enquanto removia vestidos mal dobrados e os depositava em gavetas escuras e esquecidas, voltando-se em seguida para a pilha de papéis que sempre pareciam sobrar em suas gavetas.

- Na verdade, eu nem sei o que é um mangá. - Mina respondeu, divertida, enquanto soltava um suspiro cansado e estalava as costas.

- Isso é um verdadeiro atentado à cultura oriental, sabia? - Hilde observou - Eu vou trazer para você alguns dos meus mangás favoritos. Vou começar com o clássico do shoujo, obviamente, Sailor Moon. Eles ainda não terminaram de publicar, mas isso não é um problema. Tem Card Captors Sakura que o CLAMP começou a publicar esse ano. A Sakura é tão fofinha... Tem também X/1999, Guerreiras Mágicas e...

- Hum... Eu acho que estou começando a ficar tonta... - Mina interrompeu a outra, sentando-se no chão, adotando a mesma posição que ela.

- É normal. - Hilde assentiu - Meu irmão sempre diz que esse é um dos meus efeitos colaterais.

A outra riu, meneando a cabeça.

- Eu não posso dizer muita coisa, Hilde. Não sou a pessoa mais normal dessa casa, então, não tenho como recriminar você. - ela sorriu mais uma vez - De qualquer forma, eu gosto do seu jeito. E terei prazer em conhecer os seus mangás.

- E o Maggots também! - Hilde acrescentou, sorrindo.

- Maggots? É algum outro mangá?

A jovem meneou a cabeça, rindo.

- Não. Maggots é simplesmente a banda de maior sucesso da Amaterasu. E é liderada por Koji-sempai, o que significa que ela quase chega ao supra-sumo da perfeição.

- Vocês têm uma banda na escola de vocês? - Mina perguntou espantada.

- Um só, não. Várias. O sistema educacional lá é diferente daqui. - Hilde respondeu - Veja só... Além das aulas propriamente ditas, os alunos têm que participar de um ou mais clubes. Bem, é obrigatória a participação em pelo menos um clube... Mas não é como se fosse ruim.

- E como funcionam esses clubes? - Mina perguntou, curiosa - São os professores que organizam?

- Nah. - Hilde fez um movimento com a mão, negando - Os clubes são responsabilidade dos alunos mais velhos, os sempais. São vários clubes e os alunos são, por assim dizer, associados a eles. Tem o clube de astronomia, o clube de xadrez, o clube de culinária, de dança, de teatro, de música, de jornalismo, de kendô... Enfim, tem clube para todos os gostos.

- E esse Maggots é um subproduto do clube de música? - Mina começava a entender a sistema.

Hilde, por sua vez, fez uma careta de desagrado.

- Se você quer entender assim, tudo bem mas acho que chamar os meninos de "subproduto" seja um tanto deselegante... De qualquer maneira, nós temos no festival de cultura, o torneio de bandas. O Maggots já ganhou não sei quantas vezes o primeiro lugar. Embora as coisas tenham ficado um pouco mais difíceis agora que apareceu o H.A.N.A.B.I.

- Eu estou ficando tonta de novo. - Mina riu - Vamos tentar nos concentrar em coisas mais próximas. Você também está em alguma banda?

A outra meneou a cabeça.

- Eu não tenho muito jeito com música, embora adore ouvir. Não puxei à veia artística da família... Minha paixão mesmo é o clube de jornalismo. Eu sou a fotógrafa oficial do Tsuru. - Hilde respondeu - Sempre que tem algum evento ou festival na escola, Koji-sempai me encarrega de tirar as fotos.

- Você fala bastante nesse Koji-sempai. Quem é? - Mina questionou.

Os olhos de Hilde brilharam, sonhadores.

- Ele é a coisa mais fofa, mais gentil, mais apaixonante, mais...

- Hum... eu acho que já peguei o espírito da coisa. - Mina a interrompeu - Você gosta dele, certo?

- Desde o segundo ano. - Hilde confessou, sorrindo - Ele é amigo do meu irmão, os dois dividem o mesmo dormitório. Mas é só uma paixão platônica.

Mina deu de ombros.

- Tanto melhor para você. Não sei porque perder tempo suspirando pelos cantos por qualquer "sempai" ou coisa do tipo.

- Isso foi cruel, sabia? - a moça respondeu, deitando-se na cama de Mina e estirando-se - Eu sei que não tenho nenhuma chance com Koji-san, mas isso não significa que eu não possa admirá-lo. Ele é uma excelente pessoa, e, se você o conhecesse, reconheceria isso.

- Eu só não consigo entender porque perder tanto tempo com esses amores impossíveis. - Mina respondeu - Tanta energia gasta em sonhar acordado, tanta energia que poderia ser gasta em coisas mais produtivas...

Hilde olhou-a com o canto dos olhos.

- Você nunca se apaixonou, não é verdade?

- Pelo menos, até hoje, não sofri desse carma. - sorrindo, Mina se levantou.

- Um dia, você vai acabar entendendo o que eu quero dizer. - Hilde respondeu.

- Vamos torcer para que esse dia esteja bem distante então...


Notas
Mangá _ quadrinhos japoneses
Todos os títulos citados por Hilde são reais. Como a história se passa em dezembro de 1996, Sailor Moon ainda não tinha acabado (terminou em 97). O CLAMP tinha recém-lançado CCS. X/1999, por sua vez, é de 92, enquanto Rayearth foi lançado no ano seguinte.
-sempai _ sufixo que designa aluno mais velho.

Natal - Saindo às compras I
Encontrando os Johnson


Mina jogou o cachecol sobre o pescoço, antes de apertar o casaco contra si. Adorava o frio, mas só quando estava bem agasalhada. Ao lado dela, Holly esperava, segurando suas luvas e a bolsa com o dinheiro.

- E cuidado com quem vocês cruzam pelo caminho.

Mina riu baixinho.

- Holly, é a terceira vez que você repete isso.

- Não se preocupe, tia. Eu vou estar com ela. Mesmo que Mimuca seja uma quatro-olhos, a minha visão ainda é perfeita.

Mina e Holly viraram-se para Lusmore com os mesmos olhares reprovadores.

- De qualquer maneira, eu não pretendo fazer muitas compras no Beco Diagonal. - Mina voltou a dar atenção apenas à governanta, recebendo as luvas das mãos dela - Estava pensando em variar esse ano e ir comprar os presentes de natal em algum centro de compras trouxa.

- Acho que seria mais seguro. - Holly assentiu - Foi uma sorte então que eu tenha decidido trocar seu dinheiro no Gringotes, antes de você chegar.

- Eu não acho que tenha sido sorte. A senhora já estava pensando nisso antes que ela chegasse, sou capaz de apostar. - Lusmore intrometeu-se mais uma vez - Mina, você acha que vamos demorar muito? Alguma chance de virmos almoçar em casa?

A quintanista meneou a cabeça.

- Eu fiz uma lista para não ficar muito perdida. Mas ainda assim, ela ficou meio extensa. - ela abriu um sorriso meio perverso - E adivinha quem vai carregar as sacolas, Lusmore?

- Depois ela ainda se diz feminista... - ele observou, enquanto Holly abria a porta para os dois.

- Você provocou, agora arque com as conseqüências. - Holly respondeu simplesmente.

Minutos depois eles estavam em um dos famosos ônibus de dois andares, a caminho do centro londrino. Mina checava a lista que trouxera consigo, enquanto Lusmore observava em silêncio a paisagem passar por eles. Havia qualquer coisa que o estava incomodando na menina, desde o momento em que pusera os olhos nela, na estação. Alguma coisa que ele sentia estar fora do lugar.

Entretanto, ele ainda não tivera chance de descobrir o que era aquilo. Sabia que tinha a ver com as emoções de Mina. De certa forma, ela parecia mais sensível e ele podia sentir as variações da aura dela. Não podia ler o que se passava com a menina muito claramente, mesmo porque, aquela não era sua especilidade. De qualquer maneira...

- Chegamos. - a voz dela cortou seus pensamentos.

Lusmore levantou-se, ao mesmo tempo em que o ônibus parava. Os dois desceram rapidamente e Mina respirou fundo o ar gelado da manhã.

- Por onde começamos? - ele perguntou, olhando para ela.

- Tem um shopping mais para a frente. Vamos deixar o Beco Diagonal por último, porque daí eu mando os presentes pelo correio-coruja de lá.

Ele assentiu.

- E o que você vai comprar para mim?

Antes que ela pudesse responder, alguém gritou seu nome. Mina girou nos calcanhares, não demorando a reconhecer a voz de quem a chamava.

- Meri!

A ruivinha acenou sorridente para a amiga, praticamente arrastando o pai pelas mãos até se aproximar da garota de óculos e do rapaz que estava próximo a ela.

- Nunca imaginei que ia te encontrar aqui, no meio de Londres.- abraçando a menina com força- Achei que já tinha ido para as Hébridas.

- Eu tive alguns problemas. - Mina respondeu, olhando com o canto dos olhos para Lusmore, enquanto retornava o abraço - Estou fazendo compras de natal. Eu só vou para as Hébridas na véspera do natal. Tenho que providenciar os presentes do meu avô, dos meus pais, do meu padrinho, do meu tio...

- Meu... - Lusmore acrescentou, quase assobiando.

Mina percebeu o olhar curioso da amiga e suspirou.

- Bem, como são muitas pessoas, tive que trazer um carregador junto comigo. Meridiana Johnson, Lusmore Mahala.

Meridiana estendeu a mão para o rapaz, tentando conter um riso que queria sair lá do fundo da garganta, mas não queria encabular Mina. Aquele então era o terrível Lusmore Mahala de quem a quintanista falara, ou melhor, resmungara e bufara, algumas vezes. Não lhe pareceu que ele fosse o monstro terrível que Mina pintara. Muito pelo contrário, a impressão que teve é que ele era alguém bastante simpático.

- Muito prazer. - disse ela, sorrindo.

- O prazer é todo meu. - ele respondeu, com um belo sorriso - Independente do que Mimuca tenha dito, eu juro que não como criancinhas no almoço.

Mina sentiu como se todo o seu sangue tivesse de repente se concentrado em suas orelhas. Nada discretamente, ela aplicou um beliscão no cotovelo do rapaz.

- Não me chame de Mimuca. - ela advertiu, num tom perigosamente baixo.

Meridiana não conseguiu se segurar antes o comentário do rapaz, soltando uma pequena gargalhada.

- A verdade é que eu não queria comentar, mas, realmente sua fama o precede...Ela não disse nada sobre comer criancinhas...Mas sobre jogá-las em covis de dragões, isso certamente eu escutei...

Antes que Mina pudesse reclamar ou Lusmore pudesse dizer alguma coisa, um "hum-hum" interrompeu a conversa dos adolescentes. Meridiana virou-se encabulada para o pai. Estava tão feliz em reencontrar a amiga, que esquecera-se completamente dos bons modos.

- Bem... - começou a ruivinha - Antes que eu ganhe um merecido puxão de orelhas pela falta de educação, deixe-me apresentá-lo para vocês. Este aqui é o meu pai, Nicholas Jonhson. Pai, esta aqui é a Mina, a "rata de livros" que eu disse que TINHA que te apresentar, nas últimas cartas. E, bem, como ela já disse, Lusmore Mahala, primo dela.

Nick estendeu a mão para comprimentando Lusmore com um aperto firme, e, depois, dirigindo-se para Mina, disse:

- É realmente um prazer te conhecer. Pimentinha falou muito bem, de você. E sempre digo a maior felicidade de um "rato de livros" é encontrar um semelhante.

- Concordo plenamente. - Mina assentiu, abrindo uma grande sorriso, os olhos brilhantes - Meri me emprestou alguns dos seus trabalhos e, devo confessar que terminei virando uma grande fã do senhor. - ela terminou, respeitosamente, quase com adoração.

Nick corou discretamente, mesmo depois de todos os anos e livros publicados, ainda se sentia surpreso e comovido com demonstrações tão empolgadas de apreço ao seu trabalho.

- Muito obrigado, fico feliz em ouvir isso. Acho que nada melhor para um escritor que um elogio sincero. Bem, minha filha me falou que você também é escritora...

Mais uma vez, Mina se viu corando loucamente.

- Receio que "escritora" seja um exagero. Eu gosto de escrever, simplesmente isso. - ela respondeu com um sorriso - Quando eu escrevo, é como se descarregasse todos os problemas do mundo das minhas costas. É mais uma espécie de terapia...

Meridiana sorriu ao ver os dois conversando. Realmente ficava feliz quando as pessoas que eram importantes na vida dela se davam bem.

- Sabe, acho que vocês dois teriam muitas figurinhas para trocarem. Se quiserem, a gente troca os pares das compras. Eu vou com o Lusmore pelas lojas, enquanto a Mina vai com meu pai - brincou Meri.

- Eu não teria coragem de fazer seu pai de burro de carga, Meri. - Mina observou, tirando o relógio da bolsa - Mas e se tomássemos um chocolate quente aqui perto?

- Quer dizer que eu só estou aqui para carregar suas coisas, Mimi? - Lusmore retrucou, sorrindo, antes de se voltar para Meri - Por essa atitude, já deveria estar claro quem costuma jogar as pessoas no covil dos dragões.

Meridiana segurou-se para não rir ao notar o olhar fulminante que a amiga lançava ao rapaz, que parecia se divertir ainda mais com a atitude da menina.

- Um chocolate quente seria ótimo - Nicholas respondeu - Tem um café aqui perto que acho que vocês vão gostar.

Nicholas guiou os meninos até um café a poucos metros dali, virando a esquina. Ao abrir a portinhola, o sininho de latão lembrou-lhe que estivera ali fazia poucos dias para reencontrar uma velha amiga. Era estranho, nunca antes levara a filha àquele lugar, apesar de ser um dos recantos favoritos da falecida esposa.

- Olha, tem uma mesa vaga com quatro cadeiras ali no canto - disse a ruivinha apontando para um lugar próximo de uma grande jukebox.

Os quatro sentaram na mesa, fazendo os pedidos. Mina pediu um chocolate, enquanto Meri pediu um cappuccino, Nick se contentou com seu tradicional Earl Grey, e Lusmore, café preto. Enquanto os jovens conversavam, Nick observava a alegria de sua filha e dos amigos. Como queria que a esposa estivesse aqui com ele naquele momento. Foi retirado de seus devaneios ao perceber que a amiga de sua menina, lhe dirigia a palavra:

- Senhor Jonhson, er...se não for parecer intrometida demais, mas que tipo de livros o senhor gosta? Em quais autores o senhor costuma se espelhar?

Nick sorriu, já voltando atenção à amiga da filha. Às vezes achava estranho ser chamado de senhor, ele que nem tinha quarenta anos de idade, mas casara-se cedo demais e já tinha uma filha adolescente. Enquanto enumerava autores que iam desde Tolkien, passando por Lewis e T.H.White, até chegar a Shakespeare, observava os olhos brilhantes da menina concordando silenciosamente com a cabeça, e um sorriso enorme no rosto. Realmente, a jovem MacFusty era uma aficcionada por literatura. Se o amor pelos livros que estava demonstrando só de ouvir as menções daqueles autores fosse proporcional ao talento dela na escrita, ela deveria ter um futuro brilhante pela frente caso desejasse se profissionalizar. Precisava pedir a Meridiana que lhe passasse algum dia os textos de Mina

Enquanto Mina e Nick se perdiam em suas conversas literárias, Lusmore voltou-se para Meri, baixando a voz (muito embora duvidasse que Mina estivesse prestando a mínima atenção neles agora).

- Eu posso te chamar de Meridiana?

A ruiva sorriu, não sabia explicar a razão, mas simpatizara com o primo de Mina logo de cara.

- Tudo bem, claro que pode, se eu puder te chamar de Lusmore...

Ele sorriu, assentindo.

- Bem, Meridiana... Você sabe se a Mina tem aprontado alguma coisa na escola?

Os olhos da ruiva se estreitaram ligeiramente. O quê, exatamente, o rapaz estava desejando saber? Será que ele queria apenas notícias do dia-a-dia de Mina, ou desconfiava que ela estivesse envolvida em algo mais sério?

- As coisas de sempre, você sabe...Visitas clandestinas à cozinha...Coisas do gênero...

- Nada mais grave? - Lusmore voltou a insistir.

- Não que eu saiba - a ruiva reafirmou.

Talvez escrever para O Olho do Grifo não fosse uma coisa lá muito segura, considerando a guerra que se desenrolava no mundo bruxo, mas até onde ela sabia, não havia nada realmente ameaçador acontecendo dentro de Hogwarts a ponto de eles ficarem temerosos. Herman teria comentado alguma coisa com ela, não teria? Ou será que ele comentou, e ela, imersa na confusão de sentimentos que estava, não tinha atinado para a gravidade da situação? A pergunta do rapaz a deixara com uma pulga atrás da orelha.

Lusmore, por sua vez, observava a ruiva com atenção. Sentia que havia alguma coisa errada com Mina. E ele descobriria o que era. Pensara em perguntar à Meridiana porque, pela forma com que a tratara, Mina certamente a prezava muito. Mas, aparentemente, o que quer que tivesse acontecido, a jovem MacFusty não se confessara com Meridiana.

Ele se recostou em sua cadeira, sorrindo de leve.

- Pelas histórias que a Mina conta, pode até parecer que não, mas eu realmente me preocupo com ela.

- Eu também, Lusmore. Eu gosto da Mina como se ela fosse minha própria irmã. E se isso te deixa mais tranqüilo, eu te prometo que até onde for preciso, eu vou protegê-la de qualquer coisa que puder ameaçá-la.

Lusmore abriu um amplo sorriso, ele sentiu sinceridade nas palavras de Meridiana. A ruiva realmente se importava com Mina. Nesse momento, os pedidos dos quatro chegaram e Nick e Mina se viram tirados de sua conversa sobre as influências mitológicas cristãs nas obras de Tolkien e Lewis e nas semelhanças entre as principais obras dos dois autores - O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia.

- Eu não acho que tenha sido plágio, sabe? - ela continuou, enquanto agradecia o chocolate que a garçonete acabara de colocar à sua frente - A sinfonia composta por Ilúvatar em Silmarillion lembra muito a canção de Aslam em Sobrinho do Mago, a idéia é a mesma... Mas eu consigo imaginar os dois andando por Oxford e conversando sobre suas visões de mundo.

Nick assentiu.

- De qualquer maneira, eu ainda prefiro Tolkien. Lewis às vezes deixa a desejar em alguns pontos e...

- Sim, mas porque Lewis escreve para crianças. Essa cena da criação do mundo, embora seja extremamente parecida em ambos, é muito mais lírica em Lewis. Se torna algo mais próximo, mais melancólico... - Mina retrucou.

- A conversa desse lado da mesa está atingindo níveis altos demais para que possamos acompanhá-la... - Lusmore observou - Mimi, acho melhor você tomar seu chocolate antes que esfrie. E ainda temos muitas compras a fazer...

Nick e Mina sorriram.

- Receio que também não tenhamos muito tempo. - Nick respondeu - De qualquer maneira, eu ficaria muito feliz se você viesse nos visitar qualquer dia para continuarmos essa conversa, Mina.

- Será um prazer. - a menina respondeu - E eu pretendo levar então os livros que ganhei da Meri para o senhor autografar.

Meri riu baixinho, enquanto o pai corava de leve, embora assentindo.

- Com a condição de que você também levará seus textos para que eu possa ler.

Meia hora depois, os quatro estavam de volta à rua, despedindo-se. Nick reafirmou o convite que fizera, enquanto Meri abraçava calorosamente a amiga. Os Jonhson então voltaram a caminhar para suas compras e Mina observou-os desaparecer, antes de voltar-se para Lusmore.

- Vamos indo?

Ele assentiu.

continua...
participação na confecção do post: Meri

Natal - Godfrey (22/12)



Havia um cheiro doce no ar. Mel e panquecas... Hum... Talvez chocolate quente também. E torradas.

Preguiçosamente, Mina abriu os olhos, enxergando um vulto embaçado que acabara de fechar a porta do seu quarto com o pé. Tateou a mesa de cabeceira, colocando os óculos sem nem mesmo levantar-se. A figura de Godfrey McKinnon entrou em foco e a menina sorriu ao reconhecer o tio. E abriu ainda mais o sorriso ao ver que ele carregava uma bandeja com tudo o que ela estivera cheirando alguns segundos atrás.

- Bom dia, Mina. - Godfrey sorriu, depositando a bandeja sobre a cama dela.

Sem cerimônia, Mina sentou-se na cama e, de um pulo, abraçou o tio pelo pescoço.

- Bom dia!!! - ela o cumprimentou de volta, sorrindo - Maravilhoso dia. Ótimo dia. Faz com que os dias anteriores a esse pareçam apenas o borrão de um pesadelo.

Godfrey também sorriu, embora houvesse um quê de tristeza em seus olhos.

- Lusmore me contou o que aconteceu ontem. Eu queria ter ido buscá-la na estação, mas...

Mina meneou a cabeça, segurando a mão de Godfrey entre as suas.

- Não se preocupe, tio. - ela respondeu - Eu estou bem. Fiquei um pouco chateada, mas convenhamos, minha mãe é daquele jeito mesmo e não há nada que se possa fazer.

- Falando nisso, Jonathan e Lucy viajaram para as Hébridas essa madrugada. Seu avô estava reclamando que se sentia muito sozinho com a família toda em Londres. - ele sorriu - Eu devo voltar para a ilha logo após o almoço também.

- Vovô deveria logo casar com a Holly e parar de enrolar nessa vida de viúvo. - ela respondeu.

- Godfrey, você se esqueceu do suco! - a voz de Holly veio do outro lado da porta interrompendo-os e, pouco depois, a velha governanta também estava no quarto de Mina, um avental de flores lilases em torno da cintura e os cabelos grisalhos ligeiramente despenteados - Ah! Nossa bela adormecida já acordou?

- Bom dia, Holly. - Mina cumprimentou, sorrindo para ela - Esse banquete é todo para mim?

- Para quem mais seria? - ela perguntou, aproximando-se com a jarra de suco - A senhorita ontem disse a Lusmore que ia tomar banho e depois descia para o jantar. Quando eu vim chamá-la, já estava completamente adormecida. Há quantas horas você não come?

- Você ainda não tinha me visto e em vez de vir me dar um abraço, fica reclamando que eu não fui jantar ontem? - Mina retrucou.

Godfrey riu, levantando-se.

- É verdade, Holly. Você está em falta com ela.

Holly meneou a cabeça, suspirando, antes de tomar o lugar que o homem ocupava até a pouco, abraçando carinhosamente a sua menina.

- Seja bem-vinda, Mina. - ela murmurou junto à orelha da garota, antes de se afastar.

- Bem, agora que todos já nos cumprimentamos, vamos deixar que Mina tome o café dela e se arrume, Holly. Afinal, temos muito o que fazer hoje.

Mina picou os olhos, confusa.

- O que temos para fazer hoje?

- Comprar os presentes de natal, óbvio. - a voz de Lusmore soou nesse momento junto à porta, que Holly acabara por deixar aberta - Ou você já comprou o meu, Mimi?

Ela respondeu com um olhar torto, antes de enfiar uma garfada de panquecas na boca. Godfrey passou por Lusmore, despedindo-se, ao mesmo tempo em que batia de leve nas costas do rapaz, murmurando um "boa sorte". Holly também o seguiu e Mina engoliu rapidamente o que tinha na boca, observando-os, curiosa.

- Onde vocês vão? Não vão me esperar para fazer compras?

Lusmore deu um sorriso quase maligno para Mina, enquanto puxava a maçaneta.

- Quem vai fazer compras com você sou eu, Mimuca. Estou te esperando lá embaixo. - ele ia fechando a porta, mas deixou a cabeça entrever uma última vez - Aliás, belo pijama. Gostei particularmente dos gnomos azuis.

Antes que travesseiro que ela acabara de lançar lhe acertasse certeiro no rosto, ele voltou a fechar a porta. E, resmungando para si mesma, Mina voltou a comer.

Natal - A casa de Londres



- Eu preferia ter vindo a pé e sozinha, muito obrigada.

- Você só diz isso da boca para fora. - Lusmore respondeu, fechando a porta do carro, enquanto guardava a chave em algum ponto do casaco - Duvido que conseguiria vir arrastando seu malão da estação até aqui.

- Magia existe para isso. - Mina respondeu, colocando meio palmo de língua para fora.

Sem esperar por ele, a quintanista galgou os degraus que levavam à soleira do casarão que os MacFusty mantinham em Londres, num subúrbio rico da cidade. Bateu na velha aldrava de bronze três vezes, antes que a porta se abrisse, permitindo sua passagem. O moreno suspirou, meneando a cabeça, enquanto um sorriso maroto continuava a lhe teimar nos lábios.

Ainda bufando de raiva, Mina passou direto para as escadarias, disposta a se isolar em seu quarto e só sair quando os outros moradores do casarão aparecessem. Antes, porém, que pudesse concretizar seu desejo, ela percebeu que não estava sozinha. Havia duas pessoas na sala, bebericando chá enquanto liam jornal. Eles não pareciam ter percebido sua chegada.

- Pai? - ela chamou, logo reconhecendo os cabelos finos e lisos de Jonathan MacFusty, os cabelos que ela herdara.

Jonathan fechou o jornal que estava lendo, voltando-se para ela, sem levantar-se do sofá. O olhar de Mina alongou-se até o outro lado do salão, onde podia agora reconhecer a silhueta de sua mãe. Só que alguma coisa parecia não se encaixar naquela história.

- Mãe, a senhora está bem? - ela perguntou, com os olhos ligeiramente arregalados, olhando para a enorme barriga de Lucy.

Lucy ergueu as sobrancelhas bem cuidadas, encarando a filha com um misto de curiosidade e seriedade.

- Por que não estaria? - ela perguntou, repousando as mãos sobre o ventre.

Lusmore chegou à sala nesse instante, trocando um olhar com Jonathan e Lucy, antes de encarar Mina. A garota estava lívida e seus olhos corriam da barriga de Lucy para o pai, antes de voltarem-se novamente para a grávida.

- Com quantos meses a senhora está? - Mina perguntou, tentando não soar ríspida demais.

- Seis meses. - Lucy respondeu, simplesmente.

Mina mordeu os lábios, respirando fundo, embora sentisse certa dificuldade em fazê-lo. Olhou mais uma vez para o pai, antes de fixar-se nos olhos claros da mãe.

- Seis meses. E a senhora só decidiu me avisar disso pouco mais de um mês atrás?

Os olhos de Lucy faiscaram, enquanto ela observava a filha com atenção.

- Não havia porque avisá-la antes.

Um sibilo estranho ecoou nos ouvidos de Mina, e ela sentiu ganas de gritar. Por que raios sua mãe tinha que ser tão absurdamente fria? "Não havia porque avisá-la antes". Mina poderia pensar em vários motivos para ser avisada assim que Lucy tivesse tido conhecimento do fato. Sentiu vontade de gritar "porque eu sou sua filha, só isso!", mas achou melhor ficar em silêncio.

Afinal, de nada ia adiantar.

Sem dizer mais nada, ela simplesmente girou nos calcanhares, voltando para as escadas, subindo rapidamente até chegar ao quarto que costumava ocupar quando estava ali.

Pouco depois de ter se jogado de bruços na cama, escondendo o rosto junto ao travesseiro, a porta voltou a se abrir e Lusmore passou por ela, deixando a mala de Mina ao pé da cama.

- Pensei que você já soubesse. - ele observou, tentando puxar conversa - Godfrey disse...

- Eu achava que ela tinha acabado de descobrir que estava grávida. - Mina respondeu, virando de barriga para cima na cama, sem encará-lo - Mas, pelo visto, ela já sabia antes mesmo de eu voltar para Hogwarts, depois das férias de verão. E não me disse absolutamente nada! Meu pai tão pouco! Onde é que eles têm a cabeça?

- Seu pai vive no mundo das nuvens e sua mãe não acha que o resto do mundo seja interessante o suficiente para que ela necessite dar atenção a ele. - ele respondeu prontamente - Não é à toa que você é desse jeito, Mimi.

Mina arqueou a sobrancelha, de forma muito parecida com a que Lucy fizera alguns minutos atrás. Lusmore, por sua vez, apenas riu.

- Vai tomar um banho, Mimuca. Tirar o trem das costas. Acho que tia Holly fez chocolate quente em sua homenagem. E pára de esquentar a cabeça, se não, seus cabelos vão começar a fumegar. Não deve ser uma visão muito bonita.

- Poupe-me, Lusmore. - ela respondeu, malcriada, enquanto se levantava - Poupe-me...

Natal - Lusmore


Mina desembarcou, espreguiçando-se enquanto esperava os amigos.

- E cá estamos nós. De volta a Londres. - a quintanista respirou fundo, sorrindo.

- Desligaram o aquecimento da estação ou é só impressão minha? - Lore, que desembarcara naquele instante, esfregava os braços com força, tentando manter a temperatura corporal, enquanto Fofoso observava tudo com os olhos arregalados, suspirando dentro do bolso da dona.

- Cada dia o tempo se torna mais frio. - Sam respondeu - São os dementadores.

As três se encararam e Mina suspirou, desviando o olhar. Mais para a frente, Herman desembaracava junto com Raven, Luke, Satanio e Yvaine. Ela estava prestes a gritar, de modo a chamar a atenção dos amigos, quando sentiu um par de braços fortes envolverem-na pela cintura e, segundos depois, o chão faltou sob seus pés.

- Mimuca!!!!!!!!!!!!!!!!

Os olhos de Sam e Lore se arregalaram, enquanto Mina grunhia, ficando mais vermelha a cada segundo, tentando se livrar do rapaz que a abraçara. Entretanto, a força dela era pífia junto a dele e Mina só pode se ver novamente no chão quando ele a quis largar. Só então as outras duas meninas puderam dar uma boa olhada no estranho.

Ele era alto, e não muito mais velho que elas. Tinha um sorriso maroto e olhos azulados, que pareciam faiscar com uma malícia incontida. E era bonito. MUITO bonito. Na escala das meninas, ele certamente estaria apenas alguns degraus abaixo da categoria "deus grego".

Nesse momento, ele notou as acompanhantes de sua "Mimuca" e, abrindo ainda mais o sorriso "eu-tenho-32-dentes-e-sou-feliz", estendeu a mão para elas.

- Olá, meninas. Eu tenho certeza que já ouviram falar muito de mim. Eu sou Lusmore Mahala, primo da Mimi aqui.

- O que diabos você está fazendo aqui, seu maluco? - Mina interpôs-se entre ele e as amigas, antes que elas pudessem se apresentar - Por que não está tocando e cantando lá na França, seu bardo feliz?

- Porque alguém decidiu se meter em problemas. - ele respondeu, encarando-a sem deixar de sorrir - E alguém tem de ficar de olho nesse outro alguém. Agora, seja educada, e apresente suas amigas.

- Lorelai McGuire, Samantha Blair, Lusmore Mahala. Agora, despacha, Lusmore, vai embora. Cadê o tio Godfrey? Ele sempre vem me buscar na estação.

Ela embolava as palavras, nervosa demais para coordenar de maneira correta seus pensamentos. O que raios Lusmore estava fazendo ali? Tudo bem que ele ameaçara ir passar o natal em casa, mas ela não chegara a acreditar que ele realmente iria deixar o bem-bom dos parques druídicos de Lyon para vir irritá-la.

- O Godfrey está ocupado, então eu fiz o favor de vir buscar a senhorita Mimuca. Afinal, eu sou um cavalheiro gentil e educado. Não concordam comigo, senhorita McGuire e senhorita Blair?

- Com certeza. - Sam assentiu, com um sorriso maroto no rosto.

- Absoluta. - Lorelai também concordou, tentando controlar o riso.

Mina sentiu como se suas orelhas fossem fumaçar a qualquer momento. Esquecendo-se de que não tinha se despedido dos outros amigos, ela agarrou a alça do malão com a mão esquerda e, com a mão direita, saiu puxando o rapaz pela manga do casaco, enquanto resmungava em voz baixa alguma coisa que se assemelhava a "traidoras", "comida de dragão", "picadinho de cobra" e outras variantes do tipo.

Lusmore apenas sorria, enquanto acenava para as meninas, que observavam atarantadas a reação da amiga. Fora exatamente como ele previra. Aquele seria um começo de férias muito divertido...