Natal - Mãe e filha
Mina bufou quando ele deu mais um tapa em sua cabeça. Embora quisesse reagir, estava achando muito difícil naquele instante colocar a mão para fora da manta e assim, pregar um tabefe na cabeça daquele chato.
- Me deixa em paz, Lusmore.
- Não deixo não. - ele respondeu, sorrindo - Quem mandou sair nesse frio, sem agasalho? Se eu fosse seu avô, teria pego o Finvara de volta e ainda te deixado de castigo.
- Ainda bem que você não é meu avô então. - ela respondeu de maus modos.
- Mas vou ser seu marido daqui a alguns anos, então, trate de começar a aprender a me obedecer ou eu vou cumprir minha promessa de mantê-la presa num quarto escuro para o resto da sua vida, Mimuca.
Ela arqueou a sobrancelha, o que só lhe dava um aspecto mais cômico combinado aos lábios roxos e aos dentes que não paravam de trincar.
- Eu preferiria morrer a me casar com você, Lusmore. Eu me jogava em um ninho de dragões, visitava a toca de alguma serpente marinha, fazia piqueniques com acromântulas... Mas certamente não me casaria com você. - ela bufou novamente - Mesmo porque, seria quase um incesto.
Lusmore voltou a sorrir.
- Eu não sou seu irmão, Mimuca. Esse pequeno detalhe técnico invalida totalmente sua argumentação. Além disso... - ele cruzou os braços nesse instante - O certo seria você dizer que nao se casaria comigo porque não me ama. Mas você nunca utilizou essa possibilidade.
- Você anda lendo romances demais, senhor bardo. - Mina resmungou em resposta - E quando eu disse que seria um incesto, eu adicionei a palavra "quase". Ou seja, como fomos criados juntos, somos quase como irmãos, o que faria dessa sua idéia maluca um quase incesto.
- Você adora enrolar todo mundo, não é Mimuca?
- E não me chame de Mimuca. - ela suspirou, encolhendo-se mais na manta, enquanto erguia os pés na direção da lareira - Onde está a Hilde?
- Foi para casa. - ele respondeu, sentando-se aos pés da cadeira dela, mexendo no fogo com um atiçador - Rylan passou por aqui enquanto você estava fora e a chamou para terminar de arrumar a árvore.
- Ela vai vir para a ceia hoje de noite? - Mina perguntou, esfregando o nariz.
Ele meneou a cabeça.
- Ela vai ficar com o resto da família dela, Mina. Mas ela mandou avisar que volta aqui amanhã. E disse que você cavalgava muito bem.
- Alguma coisa eu tinha que saber fazer desse treinamento de domador. - ela retrucou - Embora eu já tenha dominado razoavelmente bem o arco, sofri um bocado com aquelas dedaleiras. Mas cavalos eu conheço desde criança.
- O que me faz pensar quando você deixou de ser uma...
- Você pode parar de me provocar? Eu estou com dor de cabeça!
- Culpa sua. Ninguém manda sair correndo debaixo da neve.
Ela revirou os olhos, preferindo ficar calada. Se continuasse a responder, aquela discussão iria longe, pois nenhum dos dois estava acostumado a ceder terreno e ela não se sentia muito bem naquele momento para ficar brigando. Foi quando uma batida suave soou na porta e, em seguida, a maçaneta girou, revelando o perfil de Lucy MacFusty.
Lusmore e Mina se encararam e a garota fez um discreto aceno com a cabeça, ao que ele se levantou e deixou o quarto dela, fazendo com que mãe e filha ficassem sozinhas.
- A senhora está bem? - Mina perguntou, levantando-se com certa dificuldade, já que relutava em soltar a manta.
- Você foi muito irresponsável hoje de tarde. - Lucy observou, cruzando o quarto e sentando-se à beirada da cama de Mina, a mão posta sobre o ventre.
- Hum... Bem... Digamos que eu tenha me empolgado um pouquinho. - a menina respondeu, tímida, abaixando o olhar diante do semblante sério da mãe.
As duas ficaram alguns instantes em silêncio, até que a mulher se pronunciasse novamente.
- Você cavalga muito bem. Foi Godfrey quem te ensinou?
Mina voltou a erguer a cabeça, curiosa. Lucy olhava pela janela, com os olhos claros, a neve cair lá fora, enquanto o vento assobiava contra as frestas da janela.
- A senhora estava me vendo?
- Eu vi da janela. - Lucy respondeu, um ligeiro sorriso perpassando por seus lábios, embora tenha sido tão rápido que Mina não tinha certeza se ela realmente sorrira - Como estão as coisas em Hogwarts? Desde que você chegou, mal tivemos tempo de conversar.
- Eu estava muito cansada quando cheguei. - Mina disse, muito embora na realidade, tivesse sentido mais raiva que cansaço no dia em que chegara - Depois vocês vieram pra cá, o papai foi bater a ilha com os outros domadores, e a senhora passou os dias trancada no quarto, se sentindo mal... Eu preferi não aborrecê-la.
Os olhos de Lucy brilharam e Mina quase poderia antever as palavras dela, visto o que ela aprontara com Finvara.
- Você preferia não me aborrecer? - havia um ligeiro tom de ironia nessas palavras.
- Hum... - desesperadamente, ela procurava palavras para continuar aquele estranho diálogo.
Lucy voltou a desviar o olhar para a janela.
- O que você acha do nome Kieran?
Mina piscou os olhos, confusa.
- Hein?
- Eu fiz uma pergunta simples, Mina. - Lucy retornou - O que acha...
- Eu entendi essa parte, obrigada. - a menina respondeu, voltando afinal a se sentar, enquanto cruzava as pernas em cima da poltrona - É um belo nome. Por quê?
- Será o nome do seu irmão. - a outra respondeu simplesmente, sem encará-la - Kieran Arcturus Westenra MacFusty.
- Kieran... - Mina testou o som da palavra, sorrindo de leve - Eu gostei.
Lucy voltou a levantar-se.
- Vá tomar um banho quente e se agasalhar-se. Há muito que se fazer para a ceia.
- Sim, senhora. - Mina assentiu, enquanto a mãe voltava-se elegantemente para a porta.
Já estava caminhando para o banheiro, quando ouviu a voz da mãe chamá-la mais uma vez.
- E, Mina?
- Senhora?
O semblante de Lucy relaxou quase imperceptivelmente.
- Você não teria me aborrecido se tivesse ido me procurar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário