Natal - Godfrey (22/12)
Havia um cheiro doce no ar. Mel e panquecas... Hum... Talvez chocolate quente também. E torradas.
Preguiçosamente, Mina abriu os olhos, enxergando um vulto embaçado que acabara de fechar a porta do seu quarto com o pé. Tateou a mesa de cabeceira, colocando os óculos sem nem mesmo levantar-se. A figura de Godfrey McKinnon entrou em foco e a menina sorriu ao reconhecer o tio. E abriu ainda mais o sorriso ao ver que ele carregava uma bandeja com tudo o que ela estivera cheirando alguns segundos atrás.
- Bom dia, Mina. - Godfrey sorriu, depositando a bandeja sobre a cama dela.
Sem cerimônia, Mina sentou-se na cama e, de um pulo, abraçou o tio pelo pescoço.
- Bom dia!!! - ela o cumprimentou de volta, sorrindo - Maravilhoso dia. Ótimo dia. Faz com que os dias anteriores a esse pareçam apenas o borrão de um pesadelo.
Godfrey também sorriu, embora houvesse um quê de tristeza em seus olhos.
- Lusmore me contou o que aconteceu ontem. Eu queria ter ido buscá-la na estação, mas...
Mina meneou a cabeça, segurando a mão de Godfrey entre as suas.
- Não se preocupe, tio. - ela respondeu - Eu estou bem. Fiquei um pouco chateada, mas convenhamos, minha mãe é daquele jeito mesmo e não há nada que se possa fazer.
- Falando nisso, Jonathan e Lucy viajaram para as Hébridas essa madrugada. Seu avô estava reclamando que se sentia muito sozinho com a família toda em Londres. - ele sorriu - Eu devo voltar para a ilha logo após o almoço também.
- Vovô deveria logo casar com a Holly e parar de enrolar nessa vida de viúvo. - ela respondeu.
- Godfrey, você se esqueceu do suco! - a voz de Holly veio do outro lado da porta interrompendo-os e, pouco depois, a velha governanta também estava no quarto de Mina, um avental de flores lilases em torno da cintura e os cabelos grisalhos ligeiramente despenteados - Ah! Nossa bela adormecida já acordou?
- Bom dia, Holly. - Mina cumprimentou, sorrindo para ela - Esse banquete é todo para mim?
- Para quem mais seria? - ela perguntou, aproximando-se com a jarra de suco - A senhorita ontem disse a Lusmore que ia tomar banho e depois descia para o jantar. Quando eu vim chamá-la, já estava completamente adormecida. Há quantas horas você não come?
- Você ainda não tinha me visto e em vez de vir me dar um abraço, fica reclamando que eu não fui jantar ontem? - Mina retrucou.
Godfrey riu, levantando-se.
- É verdade, Holly. Você está em falta com ela.
Holly meneou a cabeça, suspirando, antes de tomar o lugar que o homem ocupava até a pouco, abraçando carinhosamente a sua menina.
- Seja bem-vinda, Mina. - ela murmurou junto à orelha da garota, antes de se afastar.
- Bem, agora que todos já nos cumprimentamos, vamos deixar que Mina tome o café dela e se arrume, Holly. Afinal, temos muito o que fazer hoje.
Mina picou os olhos, confusa.
- O que temos para fazer hoje?
- Comprar os presentes de natal, óbvio. - a voz de Lusmore soou nesse momento junto à porta, que Holly acabara por deixar aberta - Ou você já comprou o meu, Mimi?
Ela respondeu com um olhar torto, antes de enfiar uma garfada de panquecas na boca. Godfrey passou por Lusmore, despedindo-se, ao mesmo tempo em que batia de leve nas costas do rapaz, murmurando um "boa sorte". Holly também o seguiu e Mina engoliu rapidamente o que tinha na boca, observando-os, curiosa.
- Onde vocês vão? Não vão me esperar para fazer compras?
Lusmore deu um sorriso quase maligno para Mina, enquanto puxava a maçaneta.
- Quem vai fazer compras com você sou eu, Mimuca. Estou te esperando lá embaixo. - ele ia fechando a porta, mas deixou a cabeça entrever uma última vez - Aliás, belo pijama. Gostei particularmente dos gnomos azuis.
Antes que travesseiro que ela acabara de lançar lhe acertasse certeiro no rosto, ele voltou a fechar a porta. E, resmungando para si mesma, Mina voltou a comer.
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