quarta-feira, janeiro 24, 2007

Natal - A casa de Londres



- Eu preferia ter vindo a pé e sozinha, muito obrigada.

- Você só diz isso da boca para fora. - Lusmore respondeu, fechando a porta do carro, enquanto guardava a chave em algum ponto do casaco - Duvido que conseguiria vir arrastando seu malão da estação até aqui.

- Magia existe para isso. - Mina respondeu, colocando meio palmo de língua para fora.

Sem esperar por ele, a quintanista galgou os degraus que levavam à soleira do casarão que os MacFusty mantinham em Londres, num subúrbio rico da cidade. Bateu na velha aldrava de bronze três vezes, antes que a porta se abrisse, permitindo sua passagem. O moreno suspirou, meneando a cabeça, enquanto um sorriso maroto continuava a lhe teimar nos lábios.

Ainda bufando de raiva, Mina passou direto para as escadarias, disposta a se isolar em seu quarto e só sair quando os outros moradores do casarão aparecessem. Antes, porém, que pudesse concretizar seu desejo, ela percebeu que não estava sozinha. Havia duas pessoas na sala, bebericando chá enquanto liam jornal. Eles não pareciam ter percebido sua chegada.

- Pai? - ela chamou, logo reconhecendo os cabelos finos e lisos de Jonathan MacFusty, os cabelos que ela herdara.

Jonathan fechou o jornal que estava lendo, voltando-se para ela, sem levantar-se do sofá. O olhar de Mina alongou-se até o outro lado do salão, onde podia agora reconhecer a silhueta de sua mãe. Só que alguma coisa parecia não se encaixar naquela história.

- Mãe, a senhora está bem? - ela perguntou, com os olhos ligeiramente arregalados, olhando para a enorme barriga de Lucy.

Lucy ergueu as sobrancelhas bem cuidadas, encarando a filha com um misto de curiosidade e seriedade.

- Por que não estaria? - ela perguntou, repousando as mãos sobre o ventre.

Lusmore chegou à sala nesse instante, trocando um olhar com Jonathan e Lucy, antes de encarar Mina. A garota estava lívida e seus olhos corriam da barriga de Lucy para o pai, antes de voltarem-se novamente para a grávida.

- Com quantos meses a senhora está? - Mina perguntou, tentando não soar ríspida demais.

- Seis meses. - Lucy respondeu, simplesmente.

Mina mordeu os lábios, respirando fundo, embora sentisse certa dificuldade em fazê-lo. Olhou mais uma vez para o pai, antes de fixar-se nos olhos claros da mãe.

- Seis meses. E a senhora só decidiu me avisar disso pouco mais de um mês atrás?

Os olhos de Lucy faiscaram, enquanto ela observava a filha com atenção.

- Não havia porque avisá-la antes.

Um sibilo estranho ecoou nos ouvidos de Mina, e ela sentiu ganas de gritar. Por que raios sua mãe tinha que ser tão absurdamente fria? "Não havia porque avisá-la antes". Mina poderia pensar em vários motivos para ser avisada assim que Lucy tivesse tido conhecimento do fato. Sentiu vontade de gritar "porque eu sou sua filha, só isso!", mas achou melhor ficar em silêncio.

Afinal, de nada ia adiantar.

Sem dizer mais nada, ela simplesmente girou nos calcanhares, voltando para as escadas, subindo rapidamente até chegar ao quarto que costumava ocupar quando estava ali.

Pouco depois de ter se jogado de bruços na cama, escondendo o rosto junto ao travesseiro, a porta voltou a se abrir e Lusmore passou por ela, deixando a mala de Mina ao pé da cama.

- Pensei que você já soubesse. - ele observou, tentando puxar conversa - Godfrey disse...

- Eu achava que ela tinha acabado de descobrir que estava grávida. - Mina respondeu, virando de barriga para cima na cama, sem encará-lo - Mas, pelo visto, ela já sabia antes mesmo de eu voltar para Hogwarts, depois das férias de verão. E não me disse absolutamente nada! Meu pai tão pouco! Onde é que eles têm a cabeça?

- Seu pai vive no mundo das nuvens e sua mãe não acha que o resto do mundo seja interessante o suficiente para que ela necessite dar atenção a ele. - ele respondeu prontamente - Não é à toa que você é desse jeito, Mimi.

Mina arqueou a sobrancelha, de forma muito parecida com a que Lucy fizera alguns minutos atrás. Lusmore, por sua vez, apenas riu.

- Vai tomar um banho, Mimuca. Tirar o trem das costas. Acho que tia Holly fez chocolate quente em sua homenagem. E pára de esquentar a cabeça, se não, seus cabelos vão começar a fumegar. Não deve ser uma visão muito bonita.

- Poupe-me, Lusmore. - ela respondeu, malcriada, enquanto se levantava - Poupe-me...

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