Natal - Saindo às compras II
Lista de Compras
Mina e Lusmore caminharam durante alguns minutos, antes dele voltar a puxar assunto.
- Você estava falando dos presentes que tem que providenciar, eu acabo de me lembrar de uma coisa... Você colocou seu padrinho na lista?
- Claro que coloquei. - ela respondeu, parando diante da vitrine de uma loja de roupas - Acha que minha mãe ficaria bem naquele vestido?
Lusmore arqueou a sobrancelha.
- Não é grande demais?
- Na verdade, acho que ficaria pequeno na barriga... - ela suspirou, voltando-se para ele - Por que essa preocupação com tio Edward?
- Você sabe que esse ano ele vai vir para as Hébridas com toda a família, não é?
Os olhos de Mina se arregalaram.
- Mas por quê? Tia Ceres e os filhos dele sempre ficam no Japão... Sempre tem os festivais lá e não sei mais o quê...
- A mãe da Tia Ceres está doente. - ele respondeu - Por isso, Rylan e Hilde também vão vir.
- E agora? - a menina perguntou, quase desesperada - Eu não sabia que eles iam vir. Não coloquei eles na minha lista.
Lusmore riu.
- Coloca agora, oras.
- Mas eu não conheço eles! Como vou escolher um presente sem conhecer a pessoa? - Mina parou de caminhar, ficando de frente para ele - Eles são seus primos também, não é, Lusmore? O pai da tia Ceres era um Mahala. Você os conhece, não é?
O rapaz assentiu.
- Eu costumava encontrar muito o Ryl quando éramos crianças. Você só vivia fechada no solar, não à toa não os conheceu. Mas acho que você ia gostar da Hilde, Mimi. Ela tem tantos parafusos a menos quanto você.
Mina revirou os olhos, mas controlou a vontade de responder. Precisava de informações naquele instante.
- Fora os parafusos a menos, do que ela gosta? Ou melhor, do que eles gostam?
Lusmore coçou o queixo, pensativo.
- Bem... Depois que se mudou para o Japão, Rylan virou um mestre espadachim. Ele adora espadas. A Hilde é fotógrafa no jornal da escola em que eles estudam. E, por tudo o que eu já ouvi, uma fotógrafa muito boa.
- Hum... - Mina sacou a lista do bolso e, com um lápis, riscou algumas coisas no papel, antes de voltar a caminhar - Ok. A primeira parada então vai ser... Na livraria!
- Eu sabia que em alguma hora do dia iríamos acabar lá... - Lusmore suspirou, seguindo-a.
A menina entrou na frente na grande livraria do shopping, deixando os olhos passearem pelos milhares de livros expostos nas vitrines. Sem cerimônia, ela começou a passar pelas estantes, tirando os volumes do lugar e folheando-os, ligeiramente alvoroçada. Quando Lusmore afinal conseguiu alcançá-la, ela já tinha pelo menos três encardenações debaixo do braço.
- Eu pesquisei em um catálogo trouxa de livros. - ela observou, entregando os livros nas mãos dele - Já tenho uma boa idéia do que vou comprar aqui.
- Para quem é esse "Manual da redação - dirigindo um jornal"? - ele perguntou, lendo os títulos - E para que você precisa de dois "Dragões: lendas e mitos"?
- São para um casal de irmãos que eu conheço. O Herman quer ser jornalista. E a Heather apaixonou-se por dragões. Eu daria uma versão em pelúcia para ela, se Herman já não o tivesse feito. O outro volume é para a irmã de outra amiga minha, a Fe, que é a coisa mais fofa desse mundo...
O rapaz suspirou, meneando a cabeça, enquanto Mina parecia saltitar entre as estantes, enchendo as mãos dele de coisas.
- Um lp dos Beatles? - Lusmore voltou a arquear a sobrancelha, enquanto recebia o presente das mãos dela - Quem ainda escuta lp hoje em dia?
- Tio Edward. - ela respondeu - Ele adora essas bandas trouxas e prefere os velhos discos de vinil. Diz que são mais sonoros.
- E esse álbum de fotos?
- Foi a primeira idéia que me veio à cabeça para a filha dele. - ela respondeu.
- Isso me lembra que esqueci de dizer mais uma coisa. - Lusmore observou - Nós vamos para as Hébridas amanhã. Tio Edward vai chegar de manhã, passar pelo Ministério para receber a chave de portal autorizada que seu avô pediu e depois nos pegará em casa para irmos todos juntos.
- Então amanhã eu vou conhecer esses misteriosos primos do Japão? - ela perguntou, pensativa, antes de passar mais alguns pacotes para ele - Leve isso no caixa. Eu ainda vou olhar mais algumas coisas aqui e já sigo pra lá.
O rapaz suspirou, obedecendo. Mina sorriu ao vê-lo se afastar e aproximou-se de uma estante de cds. Não demorou muito procurando o que queria. E, quando afinal chegou junto de Lusmore, que já estava passando suas compras pelo caixa, ela já tinha um presente guardado e enrolado no fundo da bolsa.
- Já é quase hora do almoço. - ele observou, quando deixaram a livraria - Que tal irmos comer alguma coisa, de preferência, alguma coisa bem quente?
Ela assentiu.
- A praça de alimentação fica para a esquerda. - ela respondeu, olhando para a placa sobre a cabeça deles - Podemos procurar alguma coisa por lá.
No caminho para a praça, eles acabaram parando em mais duas lojas. Na primeira, Mina comprou uma enorme caixa de chocolates finos, "para Raven", ela acrescentara, quando ele esticara o olho em direção à sacola. Na outra, uma loja de pequenezas, ela acabou comprando (depois de muito revirar os estoques), três caixinhas de música - uma para Meri, que ele conhecera há pouco, outra para Suzannah, que, de acordo com ela, também era prima deles e a terceira para Adhara, que ele não fazia a menor idéia de quem poderia ser.
Quando finalmente se sentaram para comer, Lusmore achou que estava realmente merecendo o título de "burro de carga". Estava com cinco sacolas, enquanto Mina só carregava uma - a de chocolates. E isso porque não confiara o suficiente nele para deixá-lo carregar aquele pacote em específico!
Uma hora e meia e dois pratos de macarronada ao molho branco depois, eles voltaram à maratona de compras. Depois de entrar em muitas lojas de roupa, Mina acabou escolhendo um vestido de festa bem solto para a mãe. Num edifício ligeiramente esquisito que alguns passantes tinham indicado para Mina - ele não sabia o que ela perguntara e também não se dera ao trabalho de inquirir a menina - acabaram por encontrar uma bela katana, que serviria maravilhosamente bem para Rylan.
No mesmo lugar, Mina comprou, depois de muito ir e voltar, uma miniatura em mármore de uma das belas ruínas gregas - o Partenon. Lusmore quase podia sentir inveja de quem ganharia aquele presente, mas Mina não chegou a comentar com ele de quem seria.
Voltaram para o shopping. Uma bengala de cabo de marfim, um charuto novo e uma coleção de miniaturas de perfume depois, entraram numa joalheria. Lá, Mina escolheu um par de brincos para a Tia Ceres e dois pingentes - uma borboleta para Lorelai, e uma gota azul para Sam.
Finalmente, quando ele já não tinha mais mãos para carregar sacolas, os dois seguiram para o Beco Diagonal. Apesar de estar disposta a se vingar de todas as gracinhas que Lusmore fizera desde o dia anterior, Mina acabou por se compadecer do rapaz, e forçou-o a dividir o peso com ela (pois, apesar dos pesares, ele não queria deixá-la carregar as sacolas).
Na Floreios e Borrões, ela comprou mais um livro: "Como deixar seus amigos (e inimigos) de cabelos em pé", além de um bolo de cartões.
- Você pode me deixar no correio e ir comprar o presente do tio Godfrey? - ela perguntou, quando já subiam para o último endereço do dia - Aí eu vou escrevendo os cartões e mandando, e vamos mais rápido.
- O que você quer dar para o Godfrey?
- Um canivete novo.
Ele assentiu.
- Tudo bem, então. Mas não saia do correio, daqui a pouco começa a escurecer.
A lua já se descobrira no céu quando afinal os dois se viram completamente livres de suas cargas.
- Para casa? - ele perguntou, já fora do Caldeirão Furado.
Mina respirou fundo, assentindo.
- Definitivamente, para casa.